André Vargas renuncia à vice-presidência da Câmara
O deputado licenciado André Vargas (PT-PR) decidiu renunciar nesta quarta-feira à vice-presidência da Câmara. Em carta endereçada à liderança do PT, o parlamentar afirma que deixa o posto para se dedicar a sua defesa e não prejudicar imagem da Casa. O petista é acusado de ligação com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal.
O novo primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados será escolhido em nova eleição. A vaga compete ao PT, que deverá indicar um parlamentar para concorrer ao cargo.
A renúncia ocorre no dia em que o Conselho de Ética abriu processo para apurar a conduta de Vargas. A partir de hoje, o petista ficará inelegível por oito anos caso renuncie ao mandato de deputado, decisão que preferiu não tomar para se defender das acusações. O relator do caso, Julio Delgado (PSB-MG), já informou haver indícios para dar prosseguimento ao processo. O petista também será investigado pela Corregedoria da Câmara.
Na carta, Vargas diz que enfrenta um "intenso bombardeio de denúncias e ilações lançadas em veículos de imprensa baseadas apenas em vazamentos ilegais de informações". Após ler o texto, o deputado Vicentinho disse que a bancada apoia a decisão do colega de partido. "Quero informar que nossa coordenação, reunida, apoia esta decisão. Entende que, de fato, é um caminho melhor", disse. "Ele quer ter o direito de defesa, o direito de ser ouvido", acrescentou.
Na semana passada, Vargas admitiu ter viajado em avião pago pelo doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investigou um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões. Mensagens trocadas pelos dois mostram que o petista articulava pela assinatura de um contrato entre a empresa Labogen, de Youssef, e o Ministério da Saúde.
Pressionado pelas denúncias, Vargas já havia pedido licença da Câmara na última segunda-feira, abrindo mão do salário de R$ 26,7 mil e outros benefícios. Petistas evitaram sair em defesa do deputado. Ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista que Vargas deveria se explicar à sociedade para o PT não "pagar o pato".
Defensor de condenados no mensalão
Vargas foi, na Câmara, um dos principais defensores de condenados no julgamento do mensalão. Ele tentou atrasar a análise de um processo de cassação contra o então deputado José Genoino (PT-SP) e apressar a análise do pedido de aposentadoria por invalidez do parlamentar, com objetivo de evitar a abertura de um processo. Genoino acabou renunciando ao mandato antes de a Câmara analisar o futuro de seu mandato.
Em fevereiro, na cerimônia da abertura do ano judiciário, André Vargas ergueu o punho cerrado ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, reprisando um gesto de condenados no julgamento do mensalão no momento em que foram presos.
Leia a carta do deputado:
Em virtude da decisão tomada hoje pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, pela instauração de procedimento de apuração de denúncias apresentadas contra mim, decidi apresentar minha renúncia à vice-presidência desta Casa.
Tomo esta decisão para que possa me concentrar em minha defesa perante o Conselho e para não prejudicar o andamento dos trabalhos da Mesa Diretora, e também de preservar a imagem da Câmara, do meu partido e de meus colegas deputados.
Tenho enfrentado um intenso bombardeio de denúncias e ilações lançadas em veículos de imprensa baseadas apenas em vazamentos ilegais de informações, as quais terei agora a oportunidade de esclarecer, apresentando minha versão - a verdade - a respeito de tudo que vem sendo divulgado.
Enfrentarei tranquilamente este processo na certeza de que provarei, ao final, que não cometi nenhum ato ilícito. Sigo com muito orgulho de minha história política e minha luta, ao lado de tantos companheiros, em defesa do povo paranaense e pela construção de um Brasil melhor.
Brasília, 9 de abril de 2014.
André Vargas