Aos agricultores, Dilma prega união e destaca ajuste fiscal
Nas agendas organizadas pelo MST e movimentos vinculados à agricultura familiar no RS, presidente ouve críticas de João Pedro Stédile e troca amabilidades com o governador gaúcho, que apoiou Aécio Neves na eleição presidencial
A presidente Dilma Rousseff (PT) preferiu centrar o discurso nas questões econômicas durante sua participação em eventos ligados ao MST e à agricultura familiar nesta sexta-feira (20), no Rio Grande do Sul. E, quando falou de política, adotou um tom conciliador.
Em solo gaúcho, Dilma teve uma agenda de quatro horas de duração na cidade de Eldorado do Sul, distante 45 quilômetros de Porto Alegre, onde participou da abertura da colheita do arroz orgânico e da inauguração de uma unidade de secagem e armazenagem de uma cooperativa de assentados.
A presidente se referiu repetidas vezes a necessidade da aprovação do ajuste fiscal, que classificou como ‘imprescindível’, e informou que, na próxima semana, os cortes no Orçamento da União, que integram o ajuste, serão ‘significativos’.
“A exemplo do que fizeram todos os governos (nos Estados) que já tinham orçamentos aprovados, vamos fazer nosso contingenciamento. Não vai ser pequeno não”, proferiu Dilma.
Na coletiva de imprensa que sucedeu as cerimônias, a petista negou-se a falar sobre a reforma ministerial, condicionando as mudanças à resolução das questões fiscais, já que afirmou que não ocorrerão alterações antes de ser resolvida a questão fiscal.
Dilma também voltou a falar sobre a importância da democracia, em referência expressa a crise política que atinge o País. "Temos vivido no último mês um momento bastante tenso no Brasil. Os chamados pescadores de águas turvas, não me interessa o que querem. O que interessa é que apostam contra o Brasil. Só podemos superar essa situação momentânea de dificuldades juntos."
A presidente não citou a Operação Lava Jato ou a Petrobras.
Defendendo o ajuste fiscal
À plateia, formada por cerca de quatro mil pequenos agricultores e assentados, deu explicações didáticas em defesa da necessidade do ajuste.
"O governo nos últimos seis anos tomou todas as medidas possíveis para que a crise (econômica internacional) não atingisse a população”, afirmou Dilma. “Aumentamos os subsídios, baixamos os juros, desoneramos a cesta básica, tomamos medidas para baixar o preço da energia, quando o petróleo estava a R$ 120, não reajustamos. Absorvemos tudo isso. Agora não temos mais como continuar absorvendo tudo."
O governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB), que apoiou o tucano Aécio Neves na corrida presidencial, recebeu Dilma na Base Aérea de Canoas e, para surpresa do público de pequenos agricultores e assentados, acompanhou a presidente em toda a agenda, até o final da coletiva de imprensa.
Sartori, que busca recursos federais para equilibrar as contas do estado e espera pela regulamentação do projeto de renegociação das dívidas dos estados, suportou com sorrisos e gestos de positivo as vaias recorrentes da plateia. E, quando discursou, voltou a surpreender os presentes. "Este ato simboliza muito do que o Brasil precisa: é constitucional e institucional. Se há quem deseje outro comportamento, não concordamos com eles", afagou o peemedebista.
A fala do governador aconteceu depois de o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, ter feito mais uma de suas contundentes manifestações. Em seu discurso, Stédile afirmou que, no domingo passado, "estava na rua uma classe média reacionária, que teve coragem de pedir golpe (de Estado)."
As críticas não se restringiram aos adversários do governo ou aos movimentos que pedem a saída da presidente. Stédile disse que os ministros do governo Dilma devem ser mais humildes, que a presidente deve ir para as ruas e que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, “tem que discutir conosco."
Para a imprensa, Dilma respondeu: "O Stédile tem a concepção dele e eu tenho a minha."