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Política

Após ataque, ação por placas de Marielle arrecada R$ 28 mil

4 out 2018 - 19h04
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Foto: Reprodução

Menos de um dia depois que circularam nas redes sociais imagens de dois candidatos do PSL-RJ exibindo uma placa destruída que homenageava a vereadora Marielle Franco, uma campanha feita por simpatizantes e apoiadores das causas defendidas por ela já arrecadou hoje (4) 14 vezes o valor definido como meta para fazer novas placas.

O valor estipulado foi de R$ 2 mil para a confecção de 100 placas. Em apenas 24 minutos, a quantia foi obtida. Por volta das 15h desta quinta-feira, as doações já somavam R$ 28 mil com a adesão de mais de mil pessoas. A organização da campanha fará mil placas e destinará o dinheiro restante para outras ações de homenagem à vereadora ainda não divulgadas.

A homenagem havia sido colada sobre uma das placas que identifica a Praça Floriano, no centro do Rio de Janeiro, mais conhecida como Cinelândia. A placa, que não foi instalada pela prefeitura, mudava informalmente o nome do logradouro para Rua Marielle Franco e informava: "Vereadora, defensora dos direitos humanos e das minorias, covardemente assassinada no dia 14 de março de 2018".

Campanha da placa

A campanha para fazer novas placas foi lançada pelo site de humor 'Sensacionalista', que posta notícias falsas que abordam com ironia questões políticas e sociais do Brasil e do Mundo. Sócio do site, o jornalista Nelito Fernandes conta que a equipe ficou estarrecida quando viu a imagem da placa quebrada e decidiu agir para reconstruir a homenagem à vereadora assassinada a tiros.

"A gente vê um acirramento das opiniões em um sentido sempre de desconstruir. Essa vai ser uma eleição em que as pessoas vão votar contra. Poucos vão votar a favor. Já que destruíram a homenagem, decidimos que vamos construir outra".

Para não ser acusada de "incitar o vandalismo", a campanha imprimirá placas de tamanho diferente do padrão de identificação das ruas do Rio de Janeiro e distribuirá as homenagens no dia 14 de outubro, quando o assassinato completa oito meses.

"O que foi quebrado não foi uma placa, foi a Marielle, mais uma vez. A imagem de uma mulher, negra, que se recusou a cumprir o destino de servir o cafezinho. Que mal Marielle fez para merecer esse ódio?", questionou Nelito.

Retirada da placa

Em um vídeo postado nas redes sociais, o candidato a deputado estadual Rodrigo Amorim, e o candidato a deputado federal Daniel Silveira, ambos do PSL-RJ, retiram a homenagem da placa que foi colocada na esquina da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, onde Marielle cumpria seu primeiro mandato quando foi assassinada.

No vídeo, Daniel defende que o assassinato não justificava colar a placa, o que classificou de vandalismo. Já Rodrigo afirma que outras 60 mil pessoas foram assassinadas no país.

Dias depois, os candidatos levaram a placa a um ato político para apoiadores em Petrópolis, na Região Serrana. O ato foi registrado em mais um vídeo postado nas redes sociais, e Amorim e Silveira exibem a placa quebrada ao meio. Os dois foram fotografados com os pedaços da placa nas mãos, e as imagens se espalharam nas redes.

Com a repercussão, os dois políticos fizeram uma transmissão ao vivo no Instagram em que afirmam que repudiam o assassinato de Marielle e defendem que seus algozes têm que ser investigados e punidos severamente.

Na gravação transmitida na internet, eles afirmam que não haverá pedido de desculpas e defendem que retiraram a homenagem como se fosse uma pichação qualquer, sem a intenção de atingir a imagem da vereadora, porque buscavam restaurar o patrimônio público havia sido depredado.

Uso da radicalização

O pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Pablo Ortellado, mapeou que a postagem dos links e imagens relacionados ao caso teve grande repercussão no Facebook, especialmente em páginas de esquerda e veículos de imprensa. Apesar disso, páginas de direita também postaram a história, com bem menos repercussão.

Apesar de muitas pessoas terem postado a imagem por indignação, o pesquisador acredita que o episódio pode se converter em votos para os candidatos. "É uma coisa que choca as pessoas que consideram bárbaro. Mas isso pode ser considerado irrelevante ou até mesmo positivo por quem poderia votar neles, e eles surfam nessa exposição", diz o analista. Ortellado ainda alerta que a polarização dificulta que a indignação seja compartilhada com "o outro lado".

"Há um antagonismo exacerbado de tal maneira que tudo que um lado afirma, o outro nega automaticamente. Com a esquerda indignada, parte da direita vai defender", diz ele. Como exemplo, cita o próprio assassinato da Marielle, que foi seguido por uma onda de notícias falsas contra a vereadora e relativizações sobre o número de homicídios no Brasil, que já passa de 60 mil por ano.

Ortellado lembra ainda que a campanha de Donald Trump, que venceu a eleição para a presidência dos Estados Unidos, se beneficiou dessa mídia espontânea.

Linguista da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, Lucas Calil acredita que os diferentes polos do espectro político aproveitam publicações de impacto nas redes sociais para reforçar a adesão de seus eleitores. No caso de candidatos ao parlamento, notícias mais impactantes podem servir ainda para diferenciar as candidaturas de outras que estão no mesmo campo político que elas, destacando-as aos olhos dos eleitores polarizados.

"Eles vão cada vez mais ao polo limite de seus valores, para não perder espaço e garantir a arena polarizada", diz ele. Calil vê protagonismo das redes sociais nesse processo porque as informações são recebidas e as posições reforçadas por pessoas próximas. "As pessoas têm entre si uma relação de confiança totalmente diferente do que com os meios de comunicação. Elas estão em grupos que reúnem família, colegas de trabalho. É totalmente diferente de um jornal dizer algo para você".

O coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Fábio Malini, avalia que episódios como esse revelam uma defesa da "eliminação do adversário", retratado como um "inimigo público".

"O que a gente viu com esse episódio é que os limites já foram ultrapassados", diz o pesquisador. "A gente vive no país uma situação em que já se tem, por parte de um grupo de políticos, uma visão de que se ganha voto com apologia à violência política."

Para Malini, a justificativa de combater o vandalismo não se sustenta, porque o ato foi teatralizado para ser viralizado na internet. "Há uma bolha que sustenta essa postura."

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