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Política

Após Mega-Sena, euforia dá lugar a cadeiras vazias no PT

Poucos servidores e assessores da liderança do partido apareceram para trabalhar um dia após ganharem prêmio milionário

19 set 2019 - 18h15
(atualizado às 19h29)
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A euforia deu lugar a cadeiras vazias - e até um certo ressentimento - nas salas da liderança do PT na manhã desta quinta-feira, 19. Um dia após servidores e assessores ganharem R$ 120 milhões na Mega-Sena, poucos apareceram para trabalhar. Quem veio e não jogou não esconde a frustração.

"Bom não está. Acho que eu merecia até um dia de folga", afirmou uma funcionária da assessoria técnica do partido que pediu para não ser identificada.

"Que alegria virou a liderança do PT. Você chega lá e ninguém olha na sua cara", afirmou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) ao relatar o desânimo de alguns servidores que apareceram para trabalhar.

Câmara dos Deputados
Câmara dos Deputados
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil / Estadão Conteúdo

O líder do PT, deputado Paulo Pimenta (RS), afirmou que, até o momento, não recebeu nenhum pedido de exoneração. Ainda segundo o parlamentar, não houve nenhum tipo de festa para comemorar o resultado. Nas comissões, onde a maioria dos vencedores atua ajudando parlamentares, a vitória na loteria virou piada.

"Freixo, o PT está precisando de assessores. Não tem ninguém lá do PSOL não? Lá, só falamos de milhão para cima", afirmou Paulo Teixeira brincando com o colega de Câmara Marcelo Freixo (PSOL-RJ) durante reunião do grupo de trabalho que analisa o pacote anticrime.

A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo percorreu as duas salas onde trabalha a maioria dos apostadores que compraram as 49 cotas do bolão premiado que rendeu, pelo menos, cerca de R$ 2,4 milhões para cada um. Em alguns casos, os valores recebidos podem ter sido maiores. Há relatos de pelo menos duas pessoas que compraram mais de uma cota.

Gabinete

Logo na recepção da sala principal da liderança petista, onde fica o gabinete de Pimenta, é possível ver uma consequência da noite de quarta-feira. A recepcionista faltou e outros servidores que atuam desde a copa, servindo água e café, e ajudando a atender o público não apareceram.

"São R$ 2 milhões. Não dá para viver o resto da vida. É hora de manter o pé no chão", afirmou um dos vencedores, que pediu à reportagem para não ser identificado. Ele afirmou que está muito feliz e que vai pensar ainda como investir a bolada.

O grupo vencedor do bolão não foi formado nesta aposta. Nos últimos dez anos, sempre que há uma aposta acumulada eles jogam. Em outros momentos já acertaram a quadra e a quina, de acordo com servidores ouvidos pelo Estado.

Os apostadores, contou outra vencedora, já iniciaram uma discussão de como ajudar aqueles jogadores que sempre participavam dos bolões, mas, por algum problema específico, não jogaram neste premiado. "Vamos ver como podemos ajudar. São todos amigos", afirmou a assessora que atua na sala da Assessoria Técnica que fica no Anexo II.

O bolão também já movimentou a Câmara. Nesta manhã, uma ex-funcionária que já trabalhou no Congresso entrou na sala para deixar currículo.

Além da imprensa, os vencedores também estão sendo abordados por amigos e parentes. A reportagem teve acesso a uma troca de mensagens no grupo de WhatsApp "Assessoria Parlamento PT", que reúne assessores técnicos que jogaram e os que não jogaram. Um servidor do Senado escreveu: "Agora é convencer a família que somos do Senado", disse.

Outro respondeu: "Se eu te contar a quantidade de pessoas que já me perguntaram se a gente pode trocar figurinha...", disse. Ele foi respondido por um vencedor: "Aqui já apareceu 'amigo' que desde outubro de 2018 não me chamava'.

Piada

Na reunião do grupo de trabalho do pacote anticrime, o deputado Paulo Teixeira e o deputado Marcelo Freixo brincaram com a situação. "Paulo Teixeira veio de Uber. Não tem nem ninguém para dirigir lá", brincou Freixo, em alusão a um motorista da liderança que ganhou parte da bolada.

"Estão dizendo que Aécio pediu a recontagem e que o Ciro falou que se não fosse o PT, ele teria ganho", continuou Freixo.

Estadão
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