Após se assumir gay, Leite é parabenizado por políticos
Governador falou pela primeira vez sobre sua homossexualidade; aliados e opositores consideram gesto importante para o País
Aos 36 anos e disposto a concorrer à Presidência da República ano que vem, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), foi parabenizado por aliados políticos e opositores nas redes sociais após se declarar gay em entrevista ao programa Conversa com o Bial, da TV Globo. O tucano é o primeiro a ocupar o posto de governador no Brasil a assumir sua homossexualidade.
Durante o programa, Leite disse que "nesse Brasil com pouca integridade a gente precisa debater o que se é". O gaúcho afirmou ainda nunca ter falado abertamente sobre o assunto porque sempre considerou que o tema tinha a ver apenas com a sua vida privada, mas que, atualmente, é preciso debatê-lo.
Leite também contou que namora um médico do Espírito Santo, a quem ama e admira por seu trabalho durante a pandemia de covid-19 em hospitais de campanha. E disse que ele sim tem coragem para atuar na linha de frente. "Coragem tem mesmo quem vai pra um hospital de campanha. Gente que tá fazendo tanto pra superar esse quadro de pandemia. Tem tantos outros exemplos de coragem que a minha fica pequenininha."
As declarações foram conhecidas antes mesmo de o programa ir ao ar, na madrugada desta sexta, 2, por meio de trechos divulgados pelo canal, o que já rendeu repercussões e agradecimentos por parte de Leite.
Fabiano Contarato (Rede-ES), que é o primeiro senador a se assumir também gay no Brasil, foi um dos primeiros a comentar. Ele disse que conhece a "dor que é a prisão do armário, sobretudo num ambiente conservador como a política".
O governador de São Paulo, João Doria - adversário direto de Leite na disputa pela indicação do partido para concorrer ao Planalto, falou em admiração e o PSDB, partido de ambos, elogiou a "coragem" do governador gaúcho.
Outros possíveis adversários de Leite na corrida presidencial também se posicionaram após sua fala, como os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM), que estiveram com o tucano no debate promovido nesta quinta, 1º, pela parceria CLP/Estadão.
Mas nem todos no mundo político aplaudiram. O ex-deputado federal Jean Wyllys, recém-filiado ao PT, acusou o tucano de não ter criticado as posturas preconceituosas do presidente Jair Bolsonaro durante a campanha de 2018 - na ocasião, então candidato a governador, Leite declarou voto em Bolsonaro.
Ainda durante a entrevista a Bial, o governador comentou uma declaração recente do presidente que teria duplo sentido. Bolsonaro questinou onde Leite teria "enfiado a grana (repasses federais)". E comentou: "Eu não vou responder pra ele, né? Mas eu acho que é feio onde ele botou essa grana toda aí. Não botou na saúde."
Após a fala, Leite interpelou Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal para se explicar e cogita apresentar uma queixa-crime contra o presidente. Sem citá-lo nominalmente, o tucano disse que, no momento em que sua participação no debate nacional começa a despertar maiores ataques por conta de adversários, "alguns vem com piadas e inalções como se tivesse algo a esconder". "Pois bem, não tenho nada a esconder. Tenho orgulho dessa integridade de poder dizer sobre minha orientação sexual, embora devêssemos viver num País em que isso não fosse uma questão."