Aprovação de Temer cresce, mas maioria desconhece reformas, aponta pesquisa
Com pouco mais de um mês de governo, as notícias são boas para o presidente Michel Temer. Além de aprovar em primeira votação a PEC 241, sua principal aposta contra a crise, uma pesquisa do instituto Ipsos revela que sua aprovação subiu nove pontos percentuais apenas no último mês.
De acordo com o estudo ao qual a BBC Brasil teve acesso em primeira mão, o presidente da República tem 30% de aprovação entre os entrevistados contra 60% que desaprovam sua gestão. A taxa de descontentes é alta, mas é a menor desde setembro de 2015, quando ele não tinha a aprovação de 55% dos brasileiros.
Em junho deste ano, a desaprovação de Temer atingiu 70% - seu patamar mais alto - contra apenas 11% de apoio. Em outubro de 2015, o então vice da petista Dilma Rousseff tinha apenas 4% de apoio.
O número de pessoas que disseram não conhecer Michel Temer o suficiente para avaliá-lo neste mês foi de 10% - o menor nível desde que Michel Temer passou a ser avaliado, em agosto do ano passado. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos.
Por outro lado, a pesquisa, que ouviu 1.200 pessoas, também revelou que os brasileiros sabem pouco sobre o governo do presidente peemedebista, que assumiu o poder após o impeachment de Dilma Rousseff no dia 31 de agosto. Durante o levantamento feito entre os dias 6 e 16 de setembro em 72 cidades do país, 55% das pessoas disseram desconhecer as reformas que Temer quer implantar no país.
Sem mérito
Para o responsável pela pesquisa e diretor da Ipsos Public Affairs, Danilo Cersosimo, o presidente Michel Temer não tem méritos pelo crescimento repentino de sua aprovação. Ele afirma que o principal responsável pela melhora nos indicadores é o fim da instabilidade política causada pelo processo de impeachment.
"Não podemos negar que a imagem do Temer melhorou desde agosto do ano passado, mas como ele nunca venceu uma grande eleição, apenas agora será avaliado pela população. Essa pesquisa é reflexo principalmente do fim de um um período de insegurança vivido no país. Agora, Temer terá a oportunidade de construir a sua imagem a partir das medidas que tomar", afirmou Cersosimo.
Entretanto, o diretor do Ipsos ressalta que a avaliação do governo Temer como ruim ou péssima por 45% dos entrevistados revela uma rejeição muito alta. "É um patamar semelhante ao de políticos como Geraldo Alckmin, José Serra e Dilma Rousseff".
Michel Temer começou a enfrentar nesta semana o primeiro teste de sua imagem na presidência: a votação da PEC 241, que limita os gastos do governo. Na segunda-feira, ele conseguiu provar que a Câmara está ao seu lado, aprovando o texto em primeira votação com larga folga. Foram 366 votos a favor da proposta (58 a mais que o necessário), 11 contra e duas abstenções.
Mas a medida, que estabelece um teto para o crescimento das despesas, está por congelar os gastos durante vinte anos e alterar o financiamento da saúde e da educação no Brasil. Ainda haverá uma nova votação no fim deste mês e só depois o projeto segue para o Senado.
De um lado, a PEC é considerada necessária para reduzir a dívida pública do país - que está em 70% do PIB (soma das riquezas produzidas) - e tirá-lo da crise fiscal. Do outro, é vista como muito rígida e criticada por, em tese, ameaçar direitos sociais. Com o passar do tempo ficará mais claro como a população interpretará essas medidas.
Primeiro as ruins
O diretor do instituto Ipsos afirma que as reformas propostas que o governo Temer quer implantar serão essenciais para a população avaliá-lo até as próximas eleições presidenciais, em 2018.
"O crescimento da aprovação de Temer evidencia um anseio da sociedade por mudanças, principalmente na educação - escolhida como prioridade de 20% dos entrevistados. Em breve, veremos quais mudanças serão feitas e qual será o impacto, pois muitas delas serão aprovadas sem o conhecimento de parte da sociedade e isso só vai se refletir depois", afirma Cersosimo.
Ele diz ainda que Temer pode estar usando a estratégia de aproveitar a ressaca política sentida pelo povo brasileiro, aliada a sua imagem inicialmente ruim, para aprovar medidas mais impopulares.
"Ele sabe que a imagem dele não precisa melhorar agora. O que ele precisa é de apoio imediato no Congresso. Ele pode colocar todos os seus remédios amargos na pauta agora e ir soltando suas medidas mais populares ao longo de 2018 (ano eleitoral)", analisa.
Cersosino ressalta que medidas aprovadas sem um debate prévio com a população pode ter um resultado negativo muito maior posteriormente.
"A reforma da Previdência, por exemplo, é delicada e difícil explicar. Isso demanda tempo e cuidado para que as pessoas entendam e depois não se vejam numa posição de perda de direitos. Esse reflexo pode demorar um pouco para acontecer."