Bancada evangélica vai atuar para apressar asilo de senador boliviano
Pinto Molina foi recebido por parlamentares evangélicos em visita discreta ao Congresso
A situação do senador boliviano Roger Pinto Molina, que fugiu da Bolívia para o Brasil no fim de agosto, ganhou apoio da bancada evangélica do Congresso. Os parlamentares vão procurar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e outros membros do governo federal para apressar a concessão de um asilo territorial ao parlamentar boliviano.
Opositor do presidente boliviano Evo Morales, Molina foi condenado pela prática de crimes econômicos em seu país e pediu asilo na embaixada brasileira em La Paz. Ele alega perseguição política por ter denunciado a ligação de autoridades do governo boliviano com o narcotráfico.
Molina tinha permissão para ficar asilado na embaixada brasileira, mas não possui um status parecido para ficar no território brasileiro. Evo Morales disse, na época da fuga, que o Brasil deveria entregar seu opositor.
Depois de cancelar duas idas ao Congresso, Pinto Molina teve uma passagem discreta pelo Senado. Foi recebido por deputados - entre os quais o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) e Jair Bolsonaro (PP-RJ) - no gabinete do senador Sérgio Petecão (PSD-AC), de quem é amigo desde a época em que foi governador do território de Pando, que faz fronteira com o Acre.
A ideia dos parlamentares evangélicos é apresentar o senador boliviano como fonte importante para assuntos sobre narcotráfico para garantir pressa na definição do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), ligado ao Ministério da Justiça.
“Nós que somos cristãos, nós que somos evangélicos, nossa luta é ferrenha. Acredito para que a gente tenha uma visão maior do que está acontecendo no nosso País, foi que Deus permitiu que o senhor viesse ao nosso País para que pudesse mostrar para nós no perigo que estamos correndo”, disse o líder da bancada evangélica, o deputado Paulo Freire (PR-SP).
Na reunião, que durou mais de uma hora, Pinto Molina relatou os 454 dias em que ficou abrigado em uma sala da embaixada brasileira em La Paz antes de fugir para o Brasil, com ajuda do diplomata Eduardo Saboia. Depois de fazer uma oração com os parlamentares - Molina também é evangélico -, o Boliviano agradeceu aos brasileiros pelo apoio. “Só Deus podia me tirar dali (do asilo na embaixada) e seria um milagre. Eu olhava pela janela e dizia: só Deus pode me tirar de lá”, disse o senador.
Pinto Molina lembrou que até um preso no Brasil tem direito a banhos de sol e apelou para que seu caso seja visto como uma situação de direitos humanos. “Sou um ser humano. Quase 500 dias sem ver sol, sem ver sua família, sem poder receber visitas”, recordou.
Atualmente, a família de Pinto Molina vive no Acre, depois de sofrer, segundo ele, uma tentativa de sequestro durante seu asilo na embaixada. “Quando eu entrei na embaixada, movimentos sociais queriam sequestrar minha mulher, para que eu saísse na embaixada. Como não conseguiram, queriam queimar minha casa. Mas a polícia conseguiu levar ela para o Acre”, contou aos parlamentares.
O boliviano disse, no entanto, que é impossível despolitizar a discussão em torno de um asilo definitivo no Brasil. “Quando o PT me vê como uma ameaça para eles, os que não são do PT me veem como benefício para eles. Isso é natural, porque eu sou político”, exemplificou.
O advogado de Molina, Fernando Tibúrcio, negou a possibilidade de o apoio da bancada evangélica prejudicar a situação jurídica do boliviano. Segundo ele, a principal preocupação agora é evitar que o caso caia em esquecimento e seja tratado com viés ideológico pelo Conare.
“Eu vejo que tem muita ideologia dentro do Conare e isso me preocupa. O processo de asilo deveria ser analisado muito rapidamente. Está certo que o Conare tem mais de 400 processos lá, mas os processos dos bolivianos estão parados”, disse Tibúrcio. “Minha maior preocupação é que o caso seja esquecido. Pode permitir uma virada ideológica no Conare”, acrescentou.
Ao final do encontro, Molina pediu para os deputados encaminharem agradecimentos formais ao senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), entre outros parlamentares, e à presidente Dilma Rousseff, pelo asilo que recebeu na embaixada.