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Política

'Blindagens' de Lula deixam poucas opções para reforma ministerial

Presidente enfrenta pedidos de maior participação do Centro no governo em troca de apoio no Congresso

21 jul 2023 - 08h27
(atualizado às 08h45)
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Vice-presidente Geraldo Alckmin ao lado de Lula em evento na Base Aérea de Brasília
Vice-presidente Geraldo Alckmin ao lado de Lula em evento na Base Aérea de Brasília
Foto: Cadu Gomes / Vice-Presidência da RepúblicaR

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta dificuldades para definir quais pastas estão disponíveis para a reforma ministerial que está em gestação. Os nomes que vão entrar parecem definidos: André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). Os dois deputados se reuniram nesta semana com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, em um encontro que, de acordo com relatos feitos ao Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, teve por objetivo tranquilizar os "ministeriáveis" de que suas cadeiras na Esplanada estão garantidas. Só falta definir quais são.

Outra indefinição envolve a presidência da Funasa. A fundação vinculada ao Ministério da Saúde, voltada à criação de programas de promoção e proteção à saúde, havia sido extinta em janeiro por uma medida provisória que perdeu a validade. Ontem o governo nomeou para o cargo o economista Alexandre Motta, servidor de carreira. Mas o economista é interino - o posto será ocupado em definitivo por um representante do Centrão, assim que o governo ajustar seus critérios de indicação política.

A incorporação de PP e Republicanos à base do governo é uma "tese consolidada", conforme o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE). Parlamentares do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, também podem ter lugar na reforma. O problema é como fazê-la. Lula quer evitar a saída de mais mulheres do primeiro escalão, depois da troca de Daniela Carneiro por Celso Sabino no Turismo, e preservar ministros que não têm mandato. Essas condições deixam mais complexo o xadrez da reforma ministerial.

Pessoas que acompanham as discussões dizem que há "dezenas de possibilidades diferentes" sendo consideradas para a "dança das cadeiras" na Esplanada. A expectativa é a de que a nomeação dos indicados pelo Centrão ainda demore para acontecer, a exemplo do que ocorreu com Sabino, cuja confirmação demorou mais de mês. "O presidente não bateu o martelo, não deliberou nada, qual tamanho, para onde, nada", disse Guimarães.

Responsável pela articulação política com o Congresso, Padilha também se reuniu com o líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), que tenta evitar a saída de petistas da Esplanada. "Confio que o presidente Lula achará uma solução que contemple bem eles (Centrão) e mantenha bons espaços ao PT", disse o parlamentar à reportagem.

'Cota pessoal'

Com o impasse sobre quais pastas serão entregues ao Centrão, a tendência é de que ministérios do PT e do PSB ou da "cota pessoal" de Lula entrem nas negociações. Mas mesmo esse caminho tem se mostrado difícil.

Nesta quarta, 19, ainda na viagem a Bruxelas para a reunião de cúpula da União Europeia com países da América Latina e Caribe, Lula afastou a possibilidade de tirar Rui Costa da Casa Civil para acomodar o Republicanos ou dissidentes do PL. "Não existe a possibilidade", afirmou o presidente. "Não é o partido que pede ministério, é o presidente que oferece."

Nas últimas semanas, Lula também falou várias vezes que o Ministério da Saúde não entra em negociação. Com isso, o PP passou a mirar o Desenvolvimento Social, hoje ocupado pelo petista Wellington Dias.

A ambição do grupo político do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de comandar a pasta que controla o Bolsa Família foi, inclusive, reiterada na conversa com Padilha. Porém, na semana passada, o presidente sinalizou que o Desenvolvimento Social também não seria entregue ao Centrão.

Silvio Costa Filho (conhecido como Silvinho) foi, ainda, cotado para o Esporte, mas Lula tenta blindar a atual ministra da pasta, Ana Moser. Assim, os critérios estabelecidos pelo presidente para a reforma ministerial - contrapartida para fortalecer a base do governo no Congresso - deixam poucas opções em aberto.

Suporte

Além da discussão sobre novos integrantes da Esplanada, as decisões de Lula precisam contemplar o que fazer com aqueles que deixarão as pastas. A intenção é organizar as trocas de modo que os ex-ministros possam dar suporte ao governo de alguma outra forma. Por isso, o foco será priorizar auxiliares com mandato - fora do governo, eles poderiam engrossar o apoio ao petista em outro ambiente.

Foi esse o caminho da ex-ministra do Turismo Daniela Carneiro. Demitida, a deputada deve ocupar o cargo de vice-liderança do governo na Câmara. Com um bônus: por ser do Republicanos, ela tende a atrair para a órbita do governo o seu partido, que tem relutado em se agregar à base. O Republicanos espera credenciar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como candidato à sucessão de Lula, e líderes da agremiação não querem associá-la à atual gestão.

PCdoB

Há uma avaliação no governo de que, caso Lula mude de ideia e decida dar o Desenvolvimento Social a um dos indicados do Centrão, Costa Filho estaria mais cotado para o posto. Nesse caso, Fufuca poderia assumir a Ciência e Tecnologia no lugar de Luciana Santos. Única integrante do PCdoB na Esplanada, a ministra poderia substituir Silvio Almeida no Ministério dos Direitos Humanos.

Em 2020, Almeida participou de um comitê externo criado para acompanhar o caso da morte do João Alberto Silveira, homem negro assassinado por seguranças de uma unidade do Carrefour em Porto Alegre (RS). O hoje ministro, que é advogado, foi criticado por sua atuação. Sua imagem ficou desgastada com o movimento negro. Por isso, dentro do governo, há a percepção de que sua eventual saída causaria poucos problemas. (COLABORARAM JOÃO PAULO NUCCI, ITALO BERTÃO FILHO E GABRIEL DE SOUSA)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Estadão
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