Bolívia diz que entregou a Brasil provas contundentes contra Molina
O governo brasileiro recebeu nesta sexta-feira, de uma delegação ministerial da Bolívia, uma volumosa documentação sobre os julgamentos nos quais está acusado Roger Pinto Molina, senador que saiu de forma turbulenta de seu país e, atualmente, tramita um pedido de refúgio no Brasil. A missão boliviana foi liderada pelo ministro de Governo, Carlos Romero, que chegou a Brasília acompanhado pelas titulares de Justiça, Cecilia Ayllón; de Transparência e Luta contra a Corrupção, Nardy Suxo; e pelo procurador-geral do Estado interino, Roberto Ramírez.
O grupo foi recebido pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com quem permaneceram reunidos durante cerca de duas horas. "É uma documentação muito grande", declarou Cardozo sobre as várias e grossas pastas recebidas dos funcionários bolivianos. Ele garantiu que, assim como fez o governo boliviano, os advogados de Pinto Molina também poderão apresentar toda a documentação que considerem necessária para justificar a alegada "perseguição política" contra o senador.
Pinto Molina estava asilado na embaixada do Brasil em La Paz desde o dia 28 de maio de 2012, mas no dia 23 de agosto saiu da Bolívia sem o salvo-conduto necessário de parte do governo de Evo Morales, com ajuda de diplomatas e escoltado por soldados brasileiros. O que a Bolívia classifica de "fuga" gerou um conflito entre os países, que inclusive provocou a queda do então ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.
Morales deu por superadas as tensões depois de se reunir na semana passada com a presidente Dilma Rousseff durante a cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) realizada no Suriname, mas insistiu que o senador deve responder à Justiça boliviana.
Ao chegar ao Brasil, Pinto Molina entrou com uma solicitação de refúgio perante o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), órgão do Ministério da Justiça que decidirá a respeito e ao qual serão remetidos os documentos entregues hoje pelo governo boliviano. Cardozo explicou que o Conare determinará o destino do senador "de forma independente", "técnica" e "sem pressões", mas esclareceu que não existe nenhum prazo legal para isso.
Destacou ainda que, se o pedido de refúgio for negado, ao senador boliviano restaria apelar ao Ministério da Justiça e que, se esse último recurso também for rejeitado, "ficaria no Brasil de forma ilegal e a Bolívia poderia pedir então sua extradição".
Segundo deu a entender o procurador Roberto Ramírez, esse é o caminho que a Bolívia espera que tomem esses trâmites, que, segundo afirmaram os membros da delegação boliviana, "não afetarão de modo algum as excelentes relações entre os países". Segundo explicou a delegação boliviana, os casos de corrupção nos quais Pinto Molina é processado são cinco, não 20 como sustenta o senador, e vão desde desvios de fundos públicos para uma universidade até desmatamento ilegal e vendas fraudulentas de terrenos do Estado a particulares.
Também assegurou que se trata, em todos os casos, de fatos que ocorreram entre os anos 2000 e 2004, portanto, anteriores à chegada de Evo Morales ao poder, que assumiu pela primeira vez em 2006. Romero insistiu que, com essa documentação, as autoridades brasileiras não terão nenhuma dúvida que não estão lidando com um "perseguido político", mas "um delinquente" e "foragido da Justiça".