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Política

Bolsonaro afirma que joias apreendidas iriam para acervo da Presidência: 'Presente que não recebi'

Ex-presidente negou ter tentado recuperar conjunto de peças de diamantes avaliado em R$ 16,5 milhões; como revelou o 'Estadão', Bolsonaro fez diversas tentativas de recuperar as joias; procurado antes pelo jornal, ele não quis se manifestar

4 mar 2023 - 17h42
(atualizado às 21h01)
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou que tenha havido irregularidades na tentativa de trazer joias de valor milionário da Arábia Saudita. Em uma entrevista a jornalistas na saída da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), um dos maiores eventos conservadores dos Estados Unidos, o político se defendeu do caso, revelado pelo Estadão, afirmando que não pediu, nem recebeu o presente. Na sexta-feira, 3, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, a quem o item mais valioso do presente seria endereçado, também negou ter conhecimento das joias e ironizou o ocorrido.

Procurado por meio de seu advogado Frederick Wassef antes da publicação da reportagem, porém, o ex-chefe do Executivo declarou que não queria se manifestar.

"A legislação diz que poderia usar, mas não se desfazer do bem. Agora eu estou sendo crucificado por um presente que eu não recebi. Alguns jornais disseram que tentei trazer joias ilegais para o Brasil, não existe isso", declarou o ex-presidente do lado de fora principal palco do Gaylord National Resort & Convention Center, em Maryland, ladeado por fãs que pediam para tirar fotos com ele e reclamaram das perguntas da imprensa sobre o caso.

Joias de três milhões de euros doadas a Michelle Bolsonaro que foram apreendidas pela Receita Federal por tentativa de entrada ilegal no País.
Joias de três milhões de euros doadas a Michelle Bolsonaro que foram apreendidas pela Receita Federal por tentativa de entrada ilegal no País.
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

Aos jornalistas que o abordaram na saída do CPAC, Bolsonaro ainda negou ter enviado um avião da FAB para liberar as joias. No entanto, o Estadão localizou a solicitação à FAB para levar o chefe da Ajudância de Ordens do Presidente da República, primeiro-sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva. O documento dizia que a viagem de Silva era "para atender a demandas do Senhor Presidente da República naquela cidade", com retorno "em voo comercial no trecho Guarulhos para Brasília".

Bolsonaro tentou ao menos nove vezes reaver as joias. Em uma das tentativas, o político acionou o Itamaraty e alegou que o presente iria para o "acervo", sem especificar qual. Como mostrou o Estadão, a Receita Federal reteve um conjunto de peças valiosas, incluindo colar, um par de brincos, anel e relógio avaliados em R$ 16,5 milhões, que estavam na mochila de um assessor do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, quando ele desembarcou da Arábia Saudita no aeroporto de Guarulhos, em 26 de outubro de 2021.

O ministro, acompanhado de comitiva que incluía o servidor, estava representando o governo brasileiro na reunião de cúpula "Iniciativa Verde do Oriente Médio", realizada na capital daquele país. Albuquerque afirmou ao Estadão que não fazia ideia do conteúdo dos embrulhos quando embarcou para o Brasil. Além da joia para Michelle, também havia um relógio e uma escultura de cavalo com as patas quebradas.

Na noite de sexta-feira, 3, após a revelação do caso, o ministro Bento Albuquerque mudou sua versão. Em entrevista ao jornal O Globo, disse que as peças "foram devidamente incorporadas ao acervo oficial brasileiro", mas não explicou por que teria ocorrido a apreensão.

Ao comentar o assunto numa rede social na sexta-feira, Michelle Bolsonaro afirmou: "Quer dizer que eu tenho tudo isso e não estava sabendo?". Horas depois, ironizou: "Saudade do que nós não vivemos".

Defensores contumazes do ex-presidente nas redes sociais, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) silenciaram sobre o caso. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) compartilhou somente uma publicação afirmando que a revelação se trata de "desespero da imprensa e de Lula".

Estadão
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