Bolsonaro confirma à PF ter conversado com o ex-chefe da Receita Federal sobre joias
Bolsonaro afirmou que queria que as joias fossem retiradas antes de ir para os EUA para evitar "vexame diplomático", caso fossem leiloadas
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou em depoimento à Polícia Federal que conversou com o ex-chefe da Receita Federal Júlio César Vieira a respeito do pacote de joias enviado pelo governo da Arábia Saudita e apreendido no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. A informação foi dada pela TV Globo, que teve acesso ao teor do depoimento dado pelo ex-presidente à Polícia Federal (PF).
Bolsonaro compareceu à sede da PF para depor sobre o caso no dia 5 de abril e admitiu que “estabeleceu contato com o então chefe da Receita Federal, Júlio [...], e determinou que estabelecesse contato direto com o ajudante de ordem [Mauro Cid]”. Pelo que se lembra, as conversas teriam sido pessoalmente.
O ex-chefe de Estado também declarou que não recebeu nenhum presente direto como presidente da República, pois tudo chegava por meio do ajudante de ordens ou Itamaraty, quando as viagens eram ao exterior.
O político disse ainda que só soube no final de novembro ou início de dezembro de 2022 que o ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque recebeu joias do governo saudita, mas não se recorda quem contou.
Bolsonaro alegou que soube nessa época, por Julio Cezar Vieira, que ninguém poderia reclamar um bem depois de 30 ou 90 dias porque as joias poderiam ser leiloadas, por abandono. Ele também confessou que queria que as joias fossem retiradas antes de ir para os EUA a fim de não deixar qualquer pendência para o governo seguinte e também para evitar um “vexame diplomático”, que seria o leilão dos objetos.
Além disso, o ex-presidente afirmou que não foi ele quem decidiu que as joias retidas em Guarulhos deveriam ser incorporadas ao acervo da Presidência e que não sabe dizer de quem partiu essa decisão e nem o motivo pelo qual Vieira e Cid se apressaram para tentar retirar as joias até o final de dezembro.
Pouco depois da tentativa de liberar as joias, o ex-chefe da Receita foi nomeado para o cargo de adido tributário em Paris. Bolsonaro alegou que não teve responsabilidade sobre essa decisão e que foi uma decisão do Ministério da Economia.
Entenda o caso
O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou trazer ilegalmente para o Brasil um conjunto de joias avaliadas em R$ 16,5 milhões. Os itens de luxo eram supostamente um presente da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e foram apreendidos no Aeroporto de Guarulhos pela Receita Federal.
As joias foram retidas quando uma comitiva do governo Bolsonaro retornava ao País após uma viagem oficial ao Oriente Médio, em outubro de 2021. As peças estavam na mochila de um militar que era assessor do então ministro de Minas e Energia Bento Alburquerque.
Em entrevista, Bolsonaro negou irregularidades com as joias que recebeu de presente do governo da Arábia Saudita e afirmou que os objetos entraram de maneira legal no País. O ex-chefe do Executivo também disse que os presentes seriam para fins pessoais dele e da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
"Estou sendo acusado de um presente que eu não pedi, nem recebi. Não existe qualquer ilegalidade da minha parte. Nunca pratiquei ilegalidade".