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Política

Bolsonaro critica PF e promete tomar "medidas legais"

Sem citar quebra de sigilos bancários de parlamentares que apoiam o governo, presidente diz que 'ideias são perseguidas' e 'direitos violados'

16 jun 2020 - 23h33
(atualizado em 17/6/2020 às 07h22)
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BRASÍLIA - Pressionado por seus apoiadores a se manifestar sobre a operação da Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro quebrou o silêncio na noite desta terça-feira, dia 16, falou em "abusos" e disse que tomará todas as medidas legais para proteger a Constituição porque não pode "fingir naturalidade" diante do que está acontecendo. Sem citar os mandados de busca e apreensão que atingiram seus aliados, Bolsonaro não deixou dúvidas sobre o destinatário de suas críticas nesse momento de tensão com o Supremo Tribunal Federal (STF).

Presidente Jair Bolsonaro em Brasília
22/05/2020 REUTERS/Adriano Machado
Presidente Jair Bolsonaro em Brasília 22/05/2020 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

"Luto para fazer a minha parte, mas não posso assistir calado enquanto direitos são violados e ideias são perseguidas", escreveu o presidente nas redes sociais. "Por isso, tomarei todas as medidas legais possíveis para proteger a Constituição e a liberdade dos brasileiros".

Em outra postagem, Bolsonaro afirmou que o histórico de seu governo "prova" que ele sempre esteve ao lado da democracia e da Constituição. "Os abusos presenciados por todos nas últimas semanas foram recebidos pelo governo com a mesma cautela de sempre, cobrando, com o simples poder da palavra, o respeito e a harmonia entre os poderes. Essa tem sido nossa postura, mesmo diante de ataques concretos", disse Bolsonaro.

O presidente havia orientado pessoas próximas a evitar manifestações públicas sobre a Operação Lume da Polícia Federal, que investiga seus aliados no âmbito do inquérito sobre os atos antidemocráticos. A pedido da Procuradoria-Geral da República, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou a quebra de sigilo bancário de dez deputados federais e um senador bolsonaristas. Moraes também é relator do inquérito das fake news.

Bolsonaro decidiu romper o silêncio, no entanto, após ser muito cobrado nas redes sociais. "Só pode haver democracia onde o povo é respeitado, onde os governados escolhem quem irá governá-los e onde as liberdades fundamentais são protegidas. É o povo que legitima as instituições, e não o contrário. Isso, sim, é democracia ", disse ele.

Sempre argumentando que quer, acima de tudo, preservar a democracia, Bolsonaro mencionou "abusos" que teriam sido cometidos contra o governo. "E fingir naturalidade diante de tudo o que está acontecendo só contribuiria para a sua completa destruição. Nada é mais autoritário do que atentar contra a liberdade de seu próprio povo", insistiu.

Bolsonaro disse que não houve por parte do governo, até agora, nenhuma medida que demonstrasse apreço ao autoritarismo. Ele observou que, em janeiro do ano passado, após colocar "fim ao ciclo PT-PSDB", seu governo iniciou uma "escalada" rumo a liberdade, trabalhando por "reformas necessárias" e se distanciando de "ditaduras comunistas".

"Vale lembrar que há décadas o conservadorismo foi abolido de nossa política, e as pessoas que se identificam com esses valores viviam sob governos socialistas que entregaram o país à violência e à corrupção, feriram nossa democracia e destruíram nossa identidade nacional", escreveu. "Suportamos a todos esses abusos sem desrespeitar nenhuma regra democrática, até mesmo quando um militante de esquerda, ex-membro de um partido da oposição, tentou me assassinar para impedir nossa vitória nas eleições, num atentado que foi assistido pelo mundo inteiro".

Antes das postagens, auxiliares de Bolsonaro diziam que o seu silêncio era um inequívoco sinal de que o governo estava disposto a baixar a temperatura da crise. A trégua envolveria até mesmo a demissão do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que chamou ministros do Supremo de "vagabundos" em duas ocasiões.

Nesta quarta-feira, 17, o plenário do Supremo retoma o julgamento que decidirá o futuro do inquérito das fake news, já que a Procuradoria Geral da República pediu a suspensão temporária das investigações. A tendência, porém, é pela continuidade das apurações, que têm fechado o cerco ao "gabinete do ódio" instalado no Palácio do Planalto.

Em uma dos posts desta terça, Bolsonaro também disse que aquilo que seus adversários apontam como "autoritarismo" do governo e de seus apoiadores não passa de posicionamentos alinhados aos valores do povo, que, segundo ele, é conservador em sua grande maioria. "A tentativa de excluir esse pensamento do debate público é que, de fato, é autoritária", insistiu o presidente.

Na tentativa de dar uma espécie de ordem unida a seus seguidores, Bolsonaro citou, por fim, o slogan de sua campanha eleitoral em letras maiúsculas: "Brasil acima de tudo; Deus acima de todos!" Apesar de todas as crises, Bolsonaro já disse, mais de uma vez, que pretende se candidatar a um segundo mandato, em 2022.

Estadão
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