Bolsonaro descarta privatizar Ceagesp e ironiza Doria
Em visita ao entreposto, presidente diz que defensores da venda da área são 'ratos' cujo interesse é beneficiar amigos; medida é defendida pelo governador de São Paulo
Em visita à Ceagesp, em São Paulo, nesta terça-feira 15, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que os defensores da privatização do terreno são "ratos" cujo interesse é beneficiar amigos. A fala foi interpretada como um ataque indireto ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que defende a transferência da Ceagesp e a privatização da área onde hoje se encontra o entreposto.
"Estamos desratizando o Brasil e aqui é um ninho de ratos", começou dizendo Bolsonaro. "Para quem fala em privatização, enquanto eu for o presidente da República essa é a casa de vocês. Nenhum rato vai querer privatizar isso aqui para beneficiar seus amigos", afirmou o presidente, durante cerimônia de inauguração da obra de reforma da Torre do Relógio da Ceagesp.
Poucos minutos depois, em um discurso com ares de comício aos trabalhadores do local, Bolsonaro voltou à carga. "Quando se fala em privatização, quero deixar bem claro. Enquanto eu for presidente da República essa é a casa de vocês. Nenhum rato vai querer sucatear isso aqui para privatizar para os seus amigos. Não tem espaço para isso aqui.", disse o presidente. "Queriam privatizar para o amiguinho se dar bem. Essa amiguinho vai continuar andando com a sua calcinha apertada porque não será privatizado", afirmou.
No final do ano passado, depois de dez meses de negociações, o governo de São Paulo e a Secretaria de Desestatização do Ministério da Economia, então sob o comando de Salim Mattar, fecharam um acordo para que a Ceagesp, empresa do governo federal, fosse transferida da Vila Leopoldina, onde se encontra hoje, para outro local às margens do Rodoanel Mário Covas. Com isso, Doria esperava privatizar a área para empresas interessadas em se instalar na região.
Nesta terça, Bolsonaro não só disse que a transferência está cancelada como anunciou a abertura de uma agência da Caixa Econômica Federal e a ampliação do entreposto de certificação de pescados, um dos gargalos da Ceagesp.
Bolsonaro nomeou o ex-comandante da Rota, coronel Ricardo Mello Araújo, para a presidência da empresa. Segundo o presidente, foram desbaratadas máfias que agiam no local cobrando propina de carregadores e vendedoras de café que trabalham no local. "Isso (a cobrança de pedágio dos carregadores) dava R$ 240 mil por mês não contabilizados que iam para o bolso de algum vagabundo", afirmou. Além disso, contratos de transportes e limpeza estão sendo revisados, de acordo com ele.
Relógio
Bolsonaro estava acompanhado do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles; do secretário de Comunicação Social, Fabio Wajngarten, e parlamentares como os deputados federais Celso Russomanno (Republicanos-SP) e Carla Zambelli (PSL-SP). Ele inaugurou a reforma da Torre do Relógio, um monumento pintado de verde e amarelo cuja obra foi paga por comerciantes que exploram a Ceagesp. O coronel Mello Araújo pediu que os trabalhadores fossem à cerimônia vestindo as cores da bandeira do Brasil. Muitos atenderam o pedido.
Um homem que carregava a bandeira brasileira foi expulso sob ameaças de agressão ao gritar "gado" em meio aos apoiadores de Bolsonaro. A cerimônia teve ares de comício eleitoral com um mestre de cerimônias pedindo a todo momento que as pessoas gritassem "mito" em homenagem ao presidente e se referia a Bolsonaro com elogios como "homem de fé", "homem de coragem", "empreendedor" e "tudo que nós precisamos para o Brasil".
O presidente aproveitou o tema dos discursos e disse que "meu governo está completando dois anos, nenhum ato de corrupção no nosso governo".
Houve aglomeração. Bolsonaro chegou a pedir a uma criança que tirasse a máscara facial para falar ao microfone. Nos dois discursos o presidente não citou a pandemia da covid-19 nem falou sobre o plano de vacinação do governo.