Bolsonaro deve depor por escrito sobre acusações de Moro
O presidente Jair Bolsonaro deverá ser interrogado por escrito pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, no inquérito em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) que apura as acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro de que o presidente tentou interferir no comando da Polícia Federal, disse uma fonte com conhecimento direto das investigações à Reuters.
Para tomar o depoimento de Bolsonaro, a PGR pretende se basear em previsão do Código de Processo Penal, segundo a qual o presidente da República --pela prerrogativa do cargo-- pode ser questionado por escrito e responder também por escrito.
A previsão, segundo a fonte, é que o depoimento do presidente seja um dos últimos lances das investigações.
Segundo depoimento dado por Moro no âmbito do inquérito, Bolsonaro teria dito, em reunião ministerial do dia 22 de abril, que iria interferir em todos os ministérios e, quanto à pasta da Justiça e Segurança Pública, se não pudesse trocar o superintendente da PF no Rio, trocaria o diretor-geral da corporação e o próprio ministro da Justiça. Esse episódio ocorreu dois dias antes de Moro pedir demissão do cargo.
O presidente nega qualquer irregularidade e alega que não se referia à PF, mas sim à sua segurança pessoal.
Depoimentos têm sido colhidos nas últimas semanas durante a investigação e o ministro do STF Celso de Mello, relator do caso, vai decidir se divulga o vídeo da reunião ministerial, apontado como uma importante prova da apuração.
A defesa de Moro defende a divulgação na íntegra do material, enquanto a PGR e a Advocacia-Geral da União (AGU) querem a apresentação de uma versão editada da gravação.
A se confirmar o depoimento de Bolsonaro por escrito, não seria a primeira vez que isso ocorre. O então presidente Michel Temer chegou a ser questionado em investigações conduzidas pela PGR, após autorização do Supremo, também dessa forma.
VAZAMENTO
Em outra frente, a Polícia Federal no Rio de Janeiro vai ouvir na quarta-feira o empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), sobre acusações feitas por ele sobre suposto vazamento e atraso de uma operação que atingiu uma pessoa próxima ao então candidato presidencial Jair Bolsonaro.
Em entrevista à Folha de S.Paulo no fim de semana, Marinho disse ter ouvido de Flávio Bolsonaro, filho do presidente, informações de que um delegado da Polícia Federal antecipou-lhe que o assessor dele à época na Assembleia Legislativa no Rio de Janeiro Fabrício Queiroz, que tinha relacionamento próximo com o próprio Bolsonaro, seria alvo de uma operação da PF.
Marinho será ouvido no inquérito aberto pela Polícia Federal para apurar o suposto vazamento, embora o próprio procurador-geral da República tenha pedido para a PF ouvir o empresário no curso da investigação que corre no Supremo sobre suposta tentativa de interferência na corporação.