Bolsonaro diz que "faltava um zero" em contrato com Covaxin
Presidente também negou que haja corrupção em seu governo
O presidente Jair Bolsonaro negou novamente que o governo tenha comprado a vacina indiana Covaxin, durante entrevista coletiva nesta sexta-feira, 25. "Vocês querem imputar a mim um crime de corrupção em que não foi gasto um centavo. Nós estamos há dois anos e meio sem corrupção", disse.
O presidente, no entanto, admitiu que "faltava um zero" no contrato de aquisição dos imunizantes. "Em vez de 300 mil doses, eram três milhões. Foi corrigido no dia seguinte", defendeu-se após questionar um jornalista e eximir-se da responsabilidade por possível irregularidade nos termos contratuais. "Foi comprada a vacina? Eu não posso participar de tudo. Volta para a faculdade", disse à repórter.
O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) alega ter alertado Bolsonaro para irregularidades no contrato de compra da Covaxin pelo Ministério da Saúde. Segundo o parlamentar, havia superfaturamento e favorecimento irregular à empresa responsável pela intermediação. Os avisos teriam sido ignorados pelo presidente, que atacou Miranda. "Olha a vida pregressa desse deputado é lógico que vai abrir inquérito", disse.
Após criticar governadores pelo fechamento de estabelecimentos comerciais, Bolsonaro lembrou o pagamento do auxílio emergencial pelo governo federal e ressaltou o desempenho econômico do País. "Gastamos em torno de R$ 300 bilhões, o equivalente a dez anos de Bolsa Família. Olha como está reagindo a economia", afirmou.
Mourão
Um pouco mais cedo, o vice-presidente Hamilton Mourão minimizou novamente a gravidade das apurações da CPI da Covid e das acusações do deputado federal Luis Miranda contra o governo federal. "Pelo que está publicado, eu acho que essa montanha vai parir um rato", disse Mourão, após ser perguntado sobre o depoimento que será dado hoje à comissão pelo irmão do parlamentar, que é servidor do Ministério da Saúde e um dos responsáveis por apontar possíveis irregularidades no contrato de compra da vacina indiana Covaxin pela pasta.
Luis Miranda diz ter alertado o presidente Jair Bolsonaro para irregularidades no contrato de compra do imunizante pela Saúde. Os avisos, segundo relato do parlamentar, foram ignorados. De acordo com os acusadores, os termos de aquisição supostamente beneficiam indevidamente a empresa responsável pela intermediação e contém preços superfaturados.
O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni, afirmou que o parlamentar e o irmão, Luis Ricardo Miranda, serão investigados por fraude contratual e denunciação caluniosa. O Planalto nega ter efetuado a compra das vacinas.
Salles
O vice-presidente comentou ainda a saída de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente. Ele afirmou que o pedido de demissão de Salles foi uma forma de proteger o governo de constrangimentos. "O Salles, coitado, estava enfrentando uma situação difícil e até para preservar o próprio governo ele pediu demissão", disse.
O ex-ministro é alvo da Operação Akuanduba da Polícia Federal, que o investiga por supostamente facilitar exportação ilegal de madeira para os Estados Unidos e a Europa. Além de Salles, dez gestores do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) são investigados.
Mourão, que também é presidente do Conselho da Amazônia, ainda não se reuniu com o novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Pereira Leite, mas o elogiou por "aliar o conhecimento do agronegócio com a questão ambiental". "O ministro pediu mais uma semana para tomar pé da situação. O Joaquim é o coordenador da comissão de conservação do Conselho, então tem trabalhado bastante com a gente", disse.
O vice-presidente também descartou a possibilidade de haver conflito de interesses na atuação de Pereira Leite, que já integrou a Sociedade Rural Brasileira (SRB). "Eu vejo a capacidade dele de equilibrar as coisas entre aquilo que são as necessidades do meio rural e as necessidades do meio ambiente", comentou Mourão.
O general afirmou que houve redução de 6% nas queimadas em junho. "Estou com a esperança que até o mês que vem a gente atinja aquele objetivo de 15% de redução", disse ao ser questionado sobre a possibilidade de a influência de Salles como chefe do Meio Ambiente ter impedido avanços no combate ao desmatamento.
Mourão garantiu que o governo "mantém o diálogo" com países interessados na preservação da Amazônia. "O embaixador da Noruega agora vai trocar. Com o embaixador da Alemanha também temos mantido esse diálogo. (O diálogo) Com os americanos estava na mão do Salles e agora vai ter que ser retomada com o Joaquim essa questão do financiamento".
A contribuição financeira de países vizinhos para a preservação da Amazônia, segundo ele, são pagamentos pelos serviços ambientais brasileiros e não podem ferir a soberania nacional. "Tem que entender que nós estamos fazendo o nosso papel na preservação da Amazônia. Com isso, nós deixamos de ter uma emissão de gás carbônico", disse.