Bolsonaro ignora canais aliados ao preferir TV que dá 0,2
Em guerra com Globo e criticado por CNN, presidente está mais interessado na TV Brasil do que em Record, SBT e RedeTV!
A 'TV do Lula' virou 'TV do Bolsonaro'. Na imprensa e no meio político, a TV Brasil, criada em dezembro de 2007 pelo então presidente petista, é agora associada aos interesses do bolsonarismo e está sob suspeita de ser usada para autopromoção do atual mandatário.
A polêmica live de Bolsonaro realizada no dia 29 de julho a respeito de supostas fraudes nas urnas eletrônicas foi transmitida pela emissora estatal. Na quarta-feira (4), a ministra do STF Cármen Lúcia acionou a Procuradoria-Geral da República.
O pedido solicita manifestação sobre notícia-crime apresentada por parlamentares do PT. Eles acusam o presidente Jair Bolsonaro de uso político do canal com "propaganda eleitoral antecipada".
Não é a primeira vez que a TV Brasil gera polêmica. Em junho, a emissora mostrou ao vivo eventos em clima de comício do presidente em Jucurutu (RN) e Marabá (PA). Neste último, a câmera o focalizou segurando uma camiseta com o slogan 'É melhor Jair se acostumando - Bolsonaro 2022'.
Em dezembro do ano passado, houve transmissão de jogo de futebol beneficente na Vila Belmiro, sede do Santos, com o presidente em campo. Dois meses antes, a emissora pública havia sido alvo de contestações ao receber da CBF os direitos de exibição da partida entre Brasil e Peru pelas Eliminatórias da Copa do Mundo do Catar. Na ocasião, o narrador do jogo enviou abraços a Bolsonaro.
Causa estranhamento essa deferência do presidente pelo canal tão criticado por ele na campanha eleitoral. Em outubro de 2018, Bolsonaro disse que iria extinguir ou privatizar a TV Brasil. "TV que dá traço de audiência" e "TV que não serve para nada" foram algumas declarações dele a respeito da emissora pertencente à EBC (Empresa Brasileira de Comunicação).
Entre as grandes redes, a TV Brasil é a sétima em audiência, com média mensal de 0,2 ponto. Muito menos vista do que os 3 grandes canais aliados de Bolsonaro: a Record TV (5 pontos) do bispo Edir Macedo, o SBT (4 pontos) de Silvio Santos e a RedeTV! (0,5 ponto) de Amilcare Dallevo Jr. e Marcelo de Carvalho.
Quando Bolsonaro iniciou o mandato, a mídia previu que ele teria uma relação próxima com essas emissoras. Mas não se nota interesse especial nem tratamento diferenciado da parte do presidente – o que, aliás, mais do que positivo, é o correto e desejável.
A CNN Brasil, de Rubens Menin, apontada como simpática a Bolsonaro na época de sua estreia, em março de 2020, passou a ser tão crítica ao presidente quanto Globo e GloboNews, TVs da família Marinho frequentemente atacadas por ele.
Ainda que tenha hoje visibilidade maior por conta da cobertura de atos de Bolsonaro, a TV Brasil não seria capaz, sozinha, de alterar um resultado eleitoral, a favor ou contra quem quer que seja.
De acordo com marqueteiros políticos, somente a Globo, com seus 12 pontos de média mensal e alcance em torno de 50 milhões de pessoas na faixa nobre, possui tal poder de influência.
Controvérsia à parte, a emissora operada pelo governo federal oferece bons programas livres de sombra ideológica, como 'Caminhos da Reportagem', 'Brasil Visto de Cima', 'Conhecendo Museus' e 'Cine Retrô'.