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Política

Bolsonaro manda mensagem para sabotar votação no Senado; veja

'Amanhã você será decisivo', disse ex-presidente a senador de partido da base do governo em conversa por celular e fotografada pelo Estadão

8 nov 2023 - 20h40
(atualizado às 21h24)
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Nelsinho Trad votou com o governo nas votações cruciais para o grupo neste ano; congressista disse estar 'triste' com Bolsonaro e ansioso pelo retorno. 'Não vejo a hora da gente voltar'.
Nelsinho Trad votou com o governo nas votações cruciais para o grupo neste ano; congressista disse estar 'triste' com Bolsonaro e ansioso pelo retorno. 'Não vejo a hora da gente voltar'.
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Brasil / Estadão

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) articulou para tentar sabotar uma votação no Senado, mas falhou. Ele tentou convencer um senador que já foi seu aliado a não aprovar a reforma tributária, tema de interesse do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Trad, você amanhã será decisivo para derrotarmos a reforma tributária", disse o contato "JMB", mesmas iniciais do nome completo de Jair Messias Bolsonaro. JMB falava com o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), cujo partido é da base do governo. A proposta da reforma foi aprovada no Senado em primeiro turno nesta quinta-feira, 8.

Trad, que votou a favor da proposta de emenda à Constituição (PEC) respondeu a mensagem chamando o contato de "presidente", e pediu a compreensão de Bolsonaro pela posição tomada. A votação foi apertada e poderia ter resultado diferente por quatro votos — a casa deu 53 dos 49 votos necessários.

Celular nas mãos de Nelsinho Trad mostram o contato JMB, acrônimo de Jair Messias Bolsonaro, dizendo que o voto do senador era 'decisivo' para derrotar a reforma tributária; congressista nega e afirma que mensagem era do filho do ex-presidente, Flávio.
Celular nas mãos de Nelsinho Trad mostram o contato JMB, acrônimo de Jair Messias Bolsonaro, dizendo que o voto do senador era 'decisivo' para derrotar a reforma tributária; congressista nega e afirma que mensagem era do filho do ex-presidente, Flávio.
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

As mensagens de texto foram flagradas pelo Estadão no plenário do Senado, durante a votação da reforma. "Empenhei minha palavra", disse. "Espero que compreenda. Tenho sofrido com o senhor mesmo estando distante. Esse povo não é o nosso povo. Tô triste e com atuação apagada. Não vejo a hora da gente voltar. Abraços e obrigado pela atenção e consideração."

Nas palavras do próprio senador na mensagem, ele condicionou o voto favorável caso a proposta atendesse interesses de seu Estado. Ele também afirmou estar "triste" e "sofrendo" com Bolsonaro, e se disse ansioso pelo retorno do bolsonarismo. "Não vejo a hora da gente voltar", escreveu. Procurado pela reportagem, Trad negou que Bolsonaro o tenha procurado.

Confrontado sobre ter recebido mensagem de um contato que tem as iniciais do nome completo do ex-presidente, Trad disse que foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) quem o procurou. Novamente questionado sobre chamar Flávio, um senador, de presidente, Trad negou que tenha falado com Bolsonaro. "Eu me reservo a responder do jeito que eu quero", disse.

O PSD, de Trad, tem três ministérios e tem nomes mais próximos ao governo no Senado como Eliziane Gama (MA), relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, Otto Alencar (BA) e Omar Aziz (AM).

O próprio Trad acompanhou o governo nas votações consideradas "cruciais" pelo governo neste ano. Ele votou favoravelmente tanto à reforma tributária e ao arcabouço fiscal — ambas com oposição do PL.

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Como revelou o Estadão, esse não foi o único movimento de Bolsonaro contra a votação da reforma tributária. O ex-presidente organizou um jantar na noite de terça com senadores do PL na sede do partido, em Brasília, para fechar questão para voto contrário à proposta.

Bolsonaro também usou o X (antigo Twitter) para criticar o projeto em votação no Senado. Bolsonaro recorreu a temas caros ao bolsonarismo como argumento para a reprovação da pauta em tramitação no Congresso, como legalização das drogas, descriminalização do aborto e "ideologia de gênero".

"O PT está ao lado da liberação das drogas, do aborto, do novo marco temporal, do fim da propriedade privada, da censura, não considera o Hamas terrorista, está ao lado de ditadores, contra o agronegócio, contra o legítimo direito à defesa, a favor da ideologia de gênero, ou seja, ao lado de tudo aquilo que repudiamos. Por que então essa proposta de reforma tributária seria boa?", escreveu no X (antigo Twitter).

Estadão
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