Bolsonaro muda o alvo e agora mira gestões da Caixa
Em 'live', presidente desvia o foco do TSE e das urnas eletrônicas e passa a criticar a condução de ações do banco nos governos petistas
Após uma campanha contra as urnas eletrônicas, o presidente Jair Bolsonaro mudou de alvo e passou a criticar as gestões passadas da Caixa Econômica Federal e do BNDES, em governos petistas. Ao lado do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, Bolsonaro citou, em transmissão ao vivo pela internet, supostos problemas ocorridos nas duas instituições durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff.
O movimento expõe a intenção de Bolsonaro de tentar desgastar politicamente Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto. "Vocês têm de entender o que aconteceu em gestões anteriores", disse o presidente, se referindo ao BNDES. "O grosso do emprestado para o exterior foi entre 2003 e 2016. Pega Lula e Dilma. O total, Lula e Dilma, é na ordem de US$ 10 bilhões. Vezes cinco, cinquenta e poucos bilhões de reais. Perdas para o Brasil. Possíveis calotes. No momento, já está em US$ 1,5 bilhão. O que a gente faz com US$ 1,5 bilhão? Quase R$ 8 bilhões. É o orçamento anual do Tarcísio (de Freitas, ministro da Infraestrutura)", afirmou.
Guimarães também fez comparações entre o atual governo e as administrações petistas. "Hoje em dia, parece que as pessoas esqueceram o que acontecia no passado", disse o presidente da Caixa, que repetiu críticas feitas mais cedo sobre "perdas" ocorridas em gestões anteriores no banco. "De 2004 a 2017, existiu uma série de operações na Caixa, no FGTS, que é o fundo dos trabalhadores, e FI-FGTS, outro fundo, todos garantidos pela Caixa. Foram R$ 46 bilhões que a Caixa Econômica Federal perdeu, diretamente ou por ter que garantir a rentabilidade do FGTS e do FI-FGTS. Ou seja, os brasileiros perderam em empréstimos, ou investimentos em empresas", declarou Guimarães na live.
"Como o presidente falou antes, não foram feitos de maneira correta. Isso está no nosso relatório de administração, mostrando as ressalvas, ou seja, pendências no balanço. Com investigação no Ministério Público Federal e da Polícia Federal", continuou o economista.
Ele observou, ainda, que irregularidades na instituição financeira foram apuradas no passado e resultaram em prisões, entre outras punições. "O Ministério Público e a Polícia Federal já realizaram essas investigações. Teve gente devolvendo dezenas de milhões de reais, pessoas que ganhavam R$ 20 mil ou R$ 30 mil devolvendo mais de R$ 20 milhões ou R$ 30 milhões. Só que nunca houve (divulgação) de maneira transparente para a sociedade."
Guimarães disse que, por "sigilo", não poderia "falar de novas investigações", e voltou a citar "problemas" no banco em gestões passadas. "As investigações que já ocorreram fizeram com que, durante dez anos, a Caixa, o FGTS, o FI-FGTS tivessem problemas em seus balanços", afirmou.
Questionado se um eventual retorno da antiga administração ao governo causaria problemas na Caixa, Guimarães disse não ter "nenhuma dúvida". "A Caixa tem um poder muito maior que todos os ministérios. Porque nós fazemos política social, tem R$ 800 bilhões de crédito. Mas não tem mais patrocínio de clube de futebol, não tem mais publicidade e não tem investimento, nem crédito, para grande empresa."
Sobre o BNDES, Bolsonaro havia dito, mais cedo, que um "levantamento" de supostas irregularidades no banco está pronto. Segundo o presidente, não estão sendo pagas prestações anuais de empréstimos internacionais. Desde a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro cita a existência de uma "caixa-preta" no BNDES. O banco, no entanto, gastou R$ 48 milhões em uma auditoria interna que não apontou nenhuma evidência de irregularidades