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Política

Bolsonaro pediu que evitassem faixas contra STF e Congresso em ato

Integrante do Planalto admite a existência da relação entre o presidente e os líderes das manifestações

17 mai 2020 - 21h18
(atualizado em 18/5/2020 às 07h19)
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BRASÍLIA - No momento em que tenta diminuir a temperatura da crise política que pode desembocar em um eventual processo de impeachment, o presidente Jair Bolsonaro fez chegar aos líderes do ato de apoio ao seu governo deste domingo, 17, um pedido para que evitassem faixas e palavras de ordem contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso.

Um grupo de manifestantes pró-Bolsonaro grita pelo fechamento dos poderes executivo e legislativo durante ato em Brasília
Um grupo de manifestantes pró-Bolsonaro grita pelo fechamento dos poderes executivo e legislativo durante ato em Brasília
Foto: Gabriela Biló / Estadão Conteúdo

Bolsonaro, segundo um dos seus mais próximos auxiliares, fez o pedido a alguns líderes de movimentos que ele tem contato, justificando que a insurgência contra os demais poderes não o estava ajudando neste momento em que busca uma trégua. O presidente está pressionando pela crise da pandemia do coronavírus, que incluiu a saída de dois ministros da Saúde, e o inquérito do STF que apura as acusações do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, de que ele tentou interferir no comando da Polícia Federal.

Alguns organizadores das manifestações ficaram incumbidos de pedir a apoiadores que recolhessem as faixas, principalmente quando o presidente aparecesse na rampa do Palácio do Planalto. A preocupação era evitar que mais uma vez o presidente aparecesse na imprensa chancelando um ato antidemocrático. Apesar disso, alguns cartazes permaneceram na manifestação.

Ao participar do ato ao lado de 11 ministros, Bolsonaro fez questão de reforçar que não havia protesto contra os demais poderes. "Nenhuma faixa, nenhuma bandeira, que atente contra nossa Constituição, contra o Estado de Direito", disse o presidente durante a transmissão, em relação aos manifestantes.

Esta é a primeira vez que um integrante do Planalto admite a existência da relação do presidente com os líderes das manifestações. Em atos anteriores que pediam o fechamento do Congresso e do STF, Bolsonaro, apesar de participar, dizia que se tratava de uma ação espontânea e sempre negou que incentivava seus apoiadores. Apesar do pedido do presidente para recolher as faixas, o auxiliar afirma que Bolsonaro nunca solicitou que elas fossem estendidas.

Um dos principais líderes dos atos, o capitão da reserva da Marinha Winston Lima disse que não houve um pedido do presidente para evitar as críticas. Segundo ele, a iniciativa de fazer uma caça às faixas com conteúdo antidemocrático ocorreu após perceberem o incômodo de Bolsonaro.

"Começamos a ver que a mídia chamava os atos de antidemocráticas por causa de uma ou duas faixinhas, mas elas não representam os apoiadores.

Percebemos também que o presidente não queria. Ele chegou a dizer isso após manifestação no Quartel-General, mas não fez nenhum pedido", afirmou.

De acordo com o militar que diariamente fica na portaria do Palácio da Alvorada esperando a saída do presidente pela manhã, os líderes solicitaram para evitar afrontas ao STF e ao Congresso ocorreu ainda na convocação do ato. A orientação era para que os apoiadores se concentrassem em palavras de exaltação ao presidente.

"Avisamos antes, mas quando a gente foi descer para o Palácio do Planalto, onde o presidente estaria, pedimos para as pessoas não ir com os cartazes. Elas entenderam bem", disse Lima. Segundo ele, manifestar outros demais poderes neste momento em que o presidente busca uma aproximação não era conveniente. "Não tem sentido. As coisas estão entrando nos eixos com relação ao STF e o Congresso. Estão se acertando", disse.

Na última semana, o chefe do Executivo ensaiou com uma aproximação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ao recebê-lo no Palácio do Planalto. Na anterior, foi recebido junto com empresários pelo presidente do STF, ministro Dias Toffolli. A visita surpresa não pegou bem na Corte e foi vista como uma pressão presidencial, mas Bolsonaro avalia que o gesto demonstra sua disposição para o diálogo.

Na última sexta-feira, 15, o ministro Celso de Mello, do STF, despachou comunicado ao Palácio do Planalto para informar o presidente do processo em tramitação na Corte que envolve um pedido de impeachment apresentado contra ele. A determinação do decano também abre espaço para Bolsonaro se manifestar e contestar a ação, caso queira.

O processo foi apresentado pelos advogados José Rossini Campos e Thiago Santos Aguiar com o objetivo de cobrar, pela Justiça, que o presidente da Câmara analise um pedido de afastamento protocolado por eles em março. Interpelado pelo decano, Maia se manifestou pedindo que a Corte rejeite o pedido alegando que o impeachment é uma "solução extrema".

Estadão
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