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Política

Bolsonaro quis saber sobre ligação de Wizard com Doria

Antes de o empresário Carlos Wizard desistir de assumir a Secretaria de Ciência, Bolsonaro já havia solicitado informações sobre empresário

9 jun 2020 - 13h47
(atualizado às 14h21)
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Antes de o empresário Carlos Wizard desistir de assumir a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde no domingo, 7, o presidente Jair Bolsonaro já havia solicitado ao "seu sistema de informação particular" que averiguasse a vida pregressa do bilionário. O chefe do Executivo não chegou a vetar a nomeação do empresário, mas ficou irritado com a sequência de entrevistas de Wizard à imprensa e principalmente com a suposta ligação do empresário com o governador de São Paulo, João Doria, seu adversário político.

Antes de Wizard desistir, Bolsonaro pediu informações sobre ligação com Doria
Antes de Wizard desistir, Bolsonaro pediu informações sobre ligação com Doria
Foto: Eliethe Fischer / Futura Press

Para interlocutores do presidente, Wizard se antecipou a uma possível demissão ao deixar de atuar como conselheiro do Ministério da Saúde e recusar o cargo no Executivo. A posse dele estava prevista para segunda-feira, 8. No mesmo dia, ele esteve no local para se despedir.

No dia 13 de abril, o empresário elogiou as ações de Doria no enfrentamento à pandemia do coronavírus. "O Brasil precisa de um gestor como o governador de São Paulo, João Doria", escreveu na ocasião.

Esta mensagem foi repassada a Bolsonaro junto com outras que evidenciavam a proximidade de Wizard com seu adversário político. O empresário chegou a se filiar ao PSDB a pedido de Doria, mas depois se desligou. O presidente então pediu mais dados antes de decidir tirá-lo do governo.

Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo, o sistema de inteligência particular do presidente tem policiais, agentes dos serviços de inteligência e aliados. Ainda de madrugada, Bolsonaro costuma selecionar informações recebidas no WhatsApp entre aquelas que precisam ser "checadas" por seus assessores ou "cobradas" às respectivas áreas. O caso Wizard entrou na lista de prioridades de checagem.

Outro motivo que colocou Wizard na berlinda foi sequência de entrevistas dadas à imprensa antes mesmo de assumir o cargo no governo. Ao jornal O Globo, na sexta-feira, 5, afirmou que os dados de mortos eram "fantasiosos" e que governos estaduais e municípios estariam inflando os números para receber mais recursos do governo federal.

O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, teve de atuar como bombeiro. Ele telefonou no domingo para representantes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) para amenizar o estrago causado pelo empresário.

O Conass havia reagido ao que disse Wizard. Em nota, o presidente da entidade, Alberto Beltrame, disse que as acusações eram "levianas" e que o governo tentava invisibilizar mortos pelo coronavírus. "Não prosperará. Nós e a sociedade brasileira não os esqueceremos e tampouco a tragédia que se abate sobre a nação", completou.

Apesar da guinada no discurso sobre a covid-19 do Ministério da Saúde desde a saída do oncologista Nelson Teich, secretários de Estados e municípios dizem ter melhor relação com Pazuello. Como não há mais esperança de que o ministério lidere a estratégia de combate a covid-19, o que gestores locais argumentam é que o general, ao menos, é mais pró-ativo para discutir a liberação de recursos e insumos.

Na noite de domingo, Wizard, por meio de nota, informou que não atuaria mais na pasta. "Informo que hoje (7/junho) deixo de atuar como Conselheiro do Ministério da Saúde, na condição pro bono. Além disso, recebi o convite para assumir a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos da pasta. Agradeço ao ministro Eduardo Pazuello pela confiança, porém decidi não aceitar para continuar me dedicando de forma solidária e independente aos trabalhos sociais que iniciei em 2018 em Roraima", declarou Wizard.

O empresário lamentou as declarações que deu nos últimos dias, sobre o plano de recontar os mortos pela covid-19, porque haveria irregularidades nas informações. "Peço desculpas por qualquer ato ou declaração de minha autoria que tenha sido interpretada como desrespeito aos familiares das vítimas da covid-19 ou profissionais de saúde que assumiram a nobre missão de salvar vidas", afirmou, na nota.

A entrada de Wizard no Ministério da Saúde foi antecipada pelo jornal O Estado de S. Paulo no dia 2 de junho. Dono da Mundo Verde, a maior rede de varejo de alimentos orgânicos do País, e de marcas como KFC e Pizza Hut no Brasil, o empresário atuava como conselheiro de Assuntos Estratégicos no ministério. O bilionário e o ministro interino da Saúde trabalharam juntos na "Operação Acolhida", que ajuda venezuelanos que cruzam a fronteira com o Brasil.

Procurado, Carlos Wizard não quis comentar sobre o pedido de averiguação feito pelo presidente Bolsonaro nem sobre suas relações com Doria. O governador de São Paulo não retornou ao contato da reportagem.

Estadão
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