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Política

Bolsonaro se irrita com Ramagem por reunião gravada, mas PL deve manter candidatura

Aliados e integrantes do partido dizem que caciques pretendem manter o deputado federal como candidato à prefeitura do Rio de Janeiro

12 jul 2024 - 17h11
(atualizado às 18h58)
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Evento do PL no Rio de Janeiro com a presença de Jair Bolsonaro
Evento do PL no Rio de Janeiro com a presença de Jair Bolsonaro
Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O diretório do Partido Liberal no Rio de Janeiro pretende manter a candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) à prefeitura da capital fluminense. O avanço das investigações que apuram um suposto esquema de espionagem ilegal na Agência Brasileira de Inteligência não deve, a princípio, impactar a decisão do clã Bolsonaro em apoiar o ex-chefe da Abin no Estado reduto bolsonarista.

O ex-presidente teria se irritado com Ramagem após a informação de que a Polícia Federal encontrou um áudio de uma reunião em que ele, o general Augusto Heleno (então chefe do Gabinete de Segurança Institucional, ao qual a Abin é subordinada) e Ramagem discutem um plano para anular o inquérito das rachadinhas - investigação que fechou o cerco ao senador Flávio Bolsonaro, filho 01 do ex-chefe do Executivo.

De acordo com aliados do ex-chefe do Executivo e de integrantes do partido, a candidatura de Ramagem é "irreversível". Nas redes sociais, o deputado diz que as suspeitas levantadas pela PF são "ilações e rasas conjecturas".

"No Brasil, nunca será fácil uma pré-campanha da nossa oposição. Continuamos no objetivo de legitimamente mudar para melhor a cidade do Rio de Janeiro", escreveu.

Apesar do desconforto com Ramagem, o ex-presidente e o PL preparam uma série de agendas na próxima semana para impulsionar a campanha bolsonarista no Rio de Janeiro. Bolsonaro tem compromissos marcados para a capital fluminense, Baixada Fluminense e Angra dos Reis.

A gravação remonta a um encontro realizado em agosto de 2020, também com a participação da advogada de Flávio. A conversa citou os auditores da Receita responsáveis pelo relatório de inteligência fiscal que baseou a investigação do caso Queiroz - revelado pelo Estadão. Procurado, Flávio disse que nunca teve contato com integrantes da Abin. "Simplesmente não existia nenhuma relação minha com Abin. Minha defesa atacava questões processuais, portanto, nenhuma utilidade que a Abin pudesse ter. A divulgação desse tipo de documento, às vésperas das eleições, apenas tem o objetivo de prejudicar a candidatura de Alexandre Ramagem à prefeitura do Rio de Janeiro", disse o senador. Bolsonaro, por meio de Fabio Wajngarten, disse não ter acessado a gravação, que não foi divulgada até o momento.

Aliado fiel do clã Bolsonaro em solo fluminense, o berço político do bolsonarismo, Ramagem ainda não decolou como pré-candidato. A três meses das eleições municipais, o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), aparece com 53% das intenções de voto em levantamento do Datafolha divulgado em 5 de julho. Ramagem vem em seguida, mas com 9% - uma diferença de 44 pontos porcentuais.

Interlocutores do deputado atribuem o baixo desempenho à sua inexperiência em disputas ao Executivo e trabalham em uma estratégia para preparar o candidato bolsonarista para as eleições. Ramagem é uma aposta pessoal de Bolsonaro para manter a influência em seu reduto eleitoral. O presidente lançou a pré-candidatura do deputado em março, na quadra da Mocidade Independente de Padre Miguel, na zona oeste do Rio de Janeiro. O evento, no entanto, não recebeu o público esperado e ficou abaixo da expectativa da pré-campanha.

Em janeiro, o deputado foi alvo de mandado de busca e apreensão autorizado na Operação Vigilância Aproximada, um desdobramento da Operação Última Milha, de outubro passado. Ramagem esteve à frente do Abin entre julho de 2019 e abril de 2022, durante o período em que dois servidores, presos em outubro, teriam utilizado a estrutura estatal para localizar os alvos da espionagem. Ramagem só saiu do cargo para concorrer às eleições a deputado, e foi confirmado como pré-candidato do PL no Rio por Bolsonaro em novembro.

Conforme as investigações na época, a agência utilizou um sistema de espionagem israelense para monitorar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e adversários do governo do então presidente Jair Bolsonaro.

Estadão
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