Bolsonaro xinga repórter ao ser questionado sobre Queiroz
Presidente chamou repórter de 'otário' e não respondeu pergunta sobre movimentação financeira de ex-assessor de Flávio
Durante cerimônia de reativação do alto-forno da Usiminas, em Ipatinga, o presidente Jair Bolsonaro voltou a se irritar e xingar repórteres ao ser questionado sobre os depósitos feitos na conta bancária da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, pelo ex-assessor de Flávio Bolsonaro Fabrício Queiroz e sua mulher, Marcia Aguiar. Por três vezes, chamou o jornalista de O Globo, que cobria a viagem, de "otário". Outros jornalistas também fizeram a pergunta, que não foi respondida. Os valores na conta da primeira-dama somaram R$ 89 mil. Bolsonaro retrucou fazendo perguntas sobre movimentações financeiras da família Marinho, proprietária do jornal.
A pergunta de um repórter do jornal Estado de Minas, que questionou se Bolsonaro havia se arrependido de ataques anteriores a repórteres, foi classificada de "indecente". Antes dos novos ataques a jornalistas, feitos durante entrevista coletiva ao longo de gradis que o separavam dos repórteres, o presidente abriu o discurso no fim da manhã em cerimônia na Usiminas também criticando os meios de comunicação.
"O dia em que eu for elogiado pela imprensa, podem saber que o Brasil está indo mal", disse. Sem máscara, ele voltou a causar aglomeração ao posar para fotos com funcionários dentro do empreendimento. Ipatinga é a terceira cidade de Minas em número de casos de covid-19, com 7.031 diagnósticos para a doença, segundo boletim divulgado nesta quarta-feira, 26, pela Secretaria de Estado de Saúde.
No evento, Bolsonaro também admitiu haver relação entre o auxílio emergencial dado à população de baixa renda durante a pandemia do novo coronavírus e o aumento de sua popularidade nos últimos meses. "O povo reconhece e sabe um dia tem um fim. Agora, é o tal negócio. Passamos tantos problemas no passado e nenhum outro presidente lembrou do povo para dar uma aspirina sequer", disse, em viagem a Ipatinga, no Vale do Aço, em Minas Gerais.
Bolsonaro, no entanto, disse que o dinheiro "não é meu". "É endividamento; por cinco meses demos R$ 600. Pretendemos dar ao final do ano uma importância um pouco abaixo disso", afirmou. O presidente voltou a dizer que o auxílio custa R$ 50 bilhões por mês e que tem de ter um "ponto final". Repetiu, ainda, que o valor dos próximos pagamentos ficará entre R$ 200 e R$ 600.
O presidente desembarcou em Minas com quatro ministros. Augusto Heleno (Segurança Institucional), Bento Albuquerque (Minas e Energia), Braga Netto (Casa Civil) e Marcelo Álvaro Antônio (Turismo). No discurso, Bolsonaro disse que em seu governo, pela primeira vez, os ministros foram escolhidos por critérios técnicos. "Assim se para a corrupção na raiz".
"Ipatinga, né?"
Bolsonaro e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), participaram da cerimônia de reativação do alto-forno vestidos com uniformes da Usiminas. O equipamento havia sido desligado em abril por causa da baixa demanda por aço depois do início do período pandêmico. O alto-forno 2 também foi paralisado e ainda não há data para retomada de seu funcionamento. O alto-forno 3 foi mantido em atividade. À época, parte dos funcionários, por decisão, entraram em férias coletivas.
Na BR-381, próximo ao Shopping do Vale, na chegada a Ipatinga, uma faixa com a frase "O Vale já é poluído demais. Fora Bolsonaro" foi colocada em um viaduto. Mais adiante, em outra faixa, "Mulheres contra Bolsonaro". É provável que o presidente não tenha visto as manifestações. A chegada da comitiva ocorreu por outra parte da cidade. Na portaria da Usiminas, um grupo de apoiadores do presidente aguardavam Bolsonaro.
Ao fim da cerimônia, ao se despedir, Bolsonaro tentou mencionar o nome da cidade, mas ficou em dúvida. Ele olhou para trás, onde estavam outros participantes do evento e perguntou: "Ipatinga, né"?.
*O repórter viajou a convite da Usiminas