Entenda passo a passo como teria ocorrido fraude em cartões de vacina que envolve Bolsonaro
Polícia Federal deflagrou a segunda fase da Operação Venire nesta quinta-feira, 4, que investiga as supostas fraudes em cartões de vacinação
A Polícia Federal (PF) indiciou em março deste ano o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 16 pessoas, no caso que investiga supostas fraudes em cartões de vacinação contra a covid-19,pelos crimes de associação criminosa e de inserção de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde.
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Em maio do ano passado, seis pessoas já haviam sido presas nesse caso. Na época, a PF deflagrou a Operação Venire, que cumpriu mandados de busca e apreensão em Brasília e no Rio de Janeiro. Um dos presos foi o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, que assinou acordo de delação premiada e foi solto em setembro passado.
Os outros presos que também foram soltos posteriormente são:
- sargento do Exército Luís Marcos dos Reis;
- ex-major do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros;
- ex-policial militar Max Guilherme;
- capitão da reserva do Exército Sérgio Cordeiro;
- ex-secretário municipal de Governo de Duque de Caxias (RJ) João Carlos de Sousa Brecha.
Já nesta quinta-feira, 4, a Polícia Federal deflagrou a segunda fase da Operação Venire. Nesta etapa, os alvos são agentes públicos de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, os alvos da operação são o ex-prefeito de Duque de Caxias e atual secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, Washington Reis (MDB), e Célia Serrano da Silva, secretária de Saúde do município.
De acordo com a PF, foi da cidade de Duque de Caxias que partiu a falsificação nos registros de vacina contra covid-19 aplicadas em Bolsonaro.
São cumpridos dois mandados de busca e apreensão, na capital fluminense, e em Duque de Caxias, emitidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). Os agentes públicos alvos da operação seriam os responsáveis por permitir que dados falsos sobre a vacinação contra a covid-19 fossem colocados nos sistemas.
Conforme a PF, a corporação irá apurar a existência de uma associação criminosa responsável por crime de inserção de dados falsos de vacinação no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) e da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS).
A PF também busca identificar outras pessoas que foram beneficiadas pelo esquema fraudulento, por meio da operação.
Passo a passo da fraude
Conforme aponta a investigação, a primeira tentativa de burlar o certificado das vacinas foi feita por Cid em novembro de 2021, quando ele pediu ajuda do sargento Luís Marcos dos Reis, membro de sua equipe na Presidência, para fraudar o certificado de vacinação da sua esposa, Gabriela Santiago Cid.
Ele teria conseguido um documento digitalizado de um cartão físico de vacinação por meio de Farley Vinicius, médico e sobrinho do sargento Reis. O registro de vacinação falso usou dados de uma vacinação verdadeira, feita em Cabeceiras (GO). Os dados foram inseridos no Conecte SUS com ajuda do militar Eduardo Crespo Alves, que teve problemas ao tentar fazer a operação do Rio de Janeiro. Por isso, um novo cartão de vacinação foi solicitado a Ailton Gonçalves Moraes Barros, que emitiu o documento em Duque de Caxias (RJ).
Nessa etapa, também houve ajuda do ex-vereador Marcello Moraes Siciliano e da enfermeira Camila Paulino Alves Soares. Os dados foram inseridos no sistema pelo então secretário municipal da cidade fluminense João Carlos de Sousa Brecha, aponta a investigação. Também foi ele quem, segundo a PF, inseriu dados ideologicamente falsos sobre a vacinação de Cid e de suas três filhas no Conecte SUS.
Depois desse processo, o modus operandi teria se repetido com Bolsonaro. Segundo a delação de Cid, o ex-presidente, ao tomar conhecimento de que o então ajudante de ordens tinha cartões de vacinação contra a covid-19 em seu nome e de seus familiares, "ordenou" que o aliado "fizesse as inserções para obtenção dos cartões ideologicamente falsos para ele e sua filha".
Conforme a PF, Brecha então inseriu os dados fraudulentos sobre a suposta vacinação de Bolsonaro em 21 de dezembro de 2022. As informações apontavam que o então presidente teria recebido as doses de Pfizer, no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias, em 13 de agosto e 14 de outubro de 2022.
A suposta falsificação teria como objetivo permitir a entrada de Bolsonaro e seus familiares e auxiliares nos Estados Unidos, em uma tentativa de burlar a regra de vacinação obrigatória para entrada no país. No penúltimo dia de seu mandato, Jair deixou o Brasil e foi para os EUA.
A PF narra ainda que os investigados tentaram "apagar os rastros das condutas criminosas". Segundo o delator, ao saber dos dados falsos, o coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, rasgou os certificados do ex-chefe do Executivo e da criança, pedindo que o então ajudante de ordens desfizesse as inserções falsas.
Em seguida, Cid contou que entrou em contato com Ailton Barros para tentar excluir as inserções. Segundo a PF, o ex-major teria então acionado a servidora Cláudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, de Duque de Caxias, que foi responsável por apagar seis dias depois os dados do sistema do Ministério da Saúde sob alegação de "erro".
Nesse momento, no entanto, um computador com registro do Palácio do Planalto já tinha acessado o Conecte SUS para gerar certificados de vacinação para impressão.
Na época, Bolsonaro disse que não tomou nenhuma vacina, e que não houve fraude nos registros de saúde dele e da filha. (*Com informações do Estadão Conteúdo)