Brasil reitera aderir 'firmemente ao princípio de uma só China' em meio às tensões em Taiwan
Comunicado oficial emitido pelos dois países apresenta posição do governo brasileiro de que a "República Popular da China é o único governo legal"
PEQUIM, ENVIADO ESPECIAL - Em declaração conjunta divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, o governo chinês e o governo brasileiro abordaram entendimentos diplomáticos entre os dois países em 49 itens. O documento ressalta que durante a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao líder chinês Xi Jinping, o Brasil reiterou aderir "firmemente ao princípio de uma só China".
"Que o governo da República Popular da China é o único governo legal que representa toda a China, enquanto Taiwan é uma parte inseparável do território chinês", diz o comunicado.
O Brasil reconhece a China desde 1974 e ao fazê-lo o País já concordou com a premissa de uma só China, mas a declaração, em comunicado oficial emitido à imprensa, ocorre em meio às tensões crescentes entre Estados Unidos e o país asiático na região - no início do mês, os americanos iniciaram exercícios militares nas Filipinas dias após os chineses realizarem manobras militares no estreito de Taiwan.
A ilha de 23 milhões de pessoas é um ponto de tensão entre Washington e Pequim. Essas tensões cresceram com manobras militares da China no Estreito de Taiwan - a China também anunciou sanções econômicas. O cenário ganhou contornos de crise com a visita, em meados do ano passado, da então presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan.
"Ao reafirmar o princípio da integridade territorial dos Estados, (o Brasil) apoiou o desenvolvimento pacífico das relações entre os dois lados do Estreito de Taiwan. A parte chinesa manifestou o grande apreço a esse respeito", destacou a manifestação conjunta.
"Quando você estabelece relações com a China você tem a reconhecer essa posição política. É normal, nenhuma inovação na política externa brasileira", disse o ex-embaixador do Brasil nos EUA, Rubens Barbosa. (Mas) no meio da atual tensão EUA-China sobre Taiwan, vai ser explorada."
Guerra
Um dos temas mais aguardados do encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping - a guerra na Ucrânia - também aparece no comunicado, mas de maneira pouco incisiva. "As partes reafirmam que diálogo e negociação são a única saída para a crise da Ucrânia e que todos os esforços conducentes à solução pacífica da crise devem ser encorajados e apoiados."
O Brasil já havia demonstrado anteriormente a ambição de ajudar mais decisivamente na mediação do conflito entre Ucrânia e Rússia e que já dura mais de um ano.
Vacinas
Outro assunto alvo de polêmica no País durante a fase mais aguda da pandemia do coronavírus, as vacinas produzidas na China, e sobretudo importadas pelo então governador de São Paulo, João Doria, entrou no comunicado. "As vacinas chinesas foram fundamentais no combate à pandemia no Brasil e contribuíram para que se salvassem milhões de vidas brasileiras". No fim de 2020, Jair Bolsonaro (PL), então presidente da República, afirmou que a chinesa Coronavac causava "morte, invalidez e anomalia".