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Política

Campanha de vereador mais cara do País tem R$ 2,4 milhões

Milton Leite (DEM), ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo, recebeu R$ 1,9 milhão do fundo eleitoral

18 out 2020 - 16h08
(atualizado às 17h20)
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Até o momento, Milton Leite (DEM), ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo e um dos principais aliados da gestão Bruno Covas (PSDB), é o dono da campanha para vereador mais cara do País, superando orçamentos até de candidatos a prefeito das capitais. Ele declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) receita de R$ 2,4 milhões, dos quais R$ 1,9 milhão são do fundo eleitoral.

Campanha de vereador mais cara do País tem R$ 2,4 milhões
Campanha de vereador mais cara do País tem R$ 2,4 milhões
Foto: fdr

No momento em que o desemprego bate a casa dos 14%, Leite usa parte do dinheiro para contratar apoiadores, distribuindo cerca de 500 empregos de ajudantes e divulgadores de campanha nos bairros de Campo Limpo, Parelheiros e Capela do Socorro, as regiões da zona sul onde ele tem sua base, com salários entre R$ 800 e R$ 2,2 mil.

A atenção a esses bairros é um dos motivos que fizeram do vereador um dos políticos mais poderosos da cidade, segundo vereadores e auxiliares de Covas. Leite tem mapeado todos os equipamentos públicos instalados nessas regiões, e procura secretários e dirigentes municipais para indicar aliados para postos-chave nesses locais.

Dessa forma, consegue atender demandas dos eleitores e tem mandato na Câmara, initerruptamente, desde 1997 - além de ter eleito um filho deputado federal e outro deputado estadual. Nas eleições passadas, foi o segundo parlamentar mais votado, com 107 mil votos, quase todos vindos dessas regiões.

Parte do apoio vem também das empresas de ônibus da zona sul (ele defende abertamente a empresa Transwolff, fundada a partir da cooperativa de perueiros Cooper Pan, mas nega usar seu mandato para favorecê-la) e da escola de samba Estrela do Terceiro Milênio, da qual o filho Alexandre é patrono.

O vereador de 64 anos, entretanto, nega que seja um assistencialista. "Sou um político que trabalha muito", disse. "Fui o segundo vereador mais votado do País em 2012", continuou o vereador, ao comentar sua verba de campanha. Ele afirma que é estratégia do partido investir em sua candidatura. "Em 2016, também tive a eleição mais cara".

Milton Leite divide o comando do partido no Estado com o vice-governador Rodrigo Garcia e é um dos dirigentes nacionais da legenda. Ele tem trânsito no Palácio dos Bandeirantes graças também à relação que construiu com o governador João Doria (PSDB) em 2016, quando o tucano disputou a eleição para a Prefeitura.

Influência

Leite foi um dos principais articuladores da coligação que elegeu Doria. Em troca, indicou nomes para a Secretaria Municipal dos Transportes e para as subprefeituras de sua região. Durante o governo Doria, a São Paulo Transportes (SPTrans) mudou a forma de remunerar as empresas de ônibus antes de concluir a licitação do transporte público, favorecendo quem tinha veículos mais modernos.

Nessa mudança, a Transwolff terminou, em 2018, por faturar 13% a mais do que no anterior, transportando menos passageiros, enquanto a média de reajuste das demais empresas ficou em 6%. "A Transwolff recebe mais porque tem a frota mais nova, é a que mais investiu na cidade", disse o vereador, que negou influência no setor. Mas ele não nega ter indicado nomes de sua confiança na Prefeitura. "Nós vencemos as eleições", disse.

Neste ano, a Prefeitura multiplicou o valor previsto no orçamento para investimento nos redutos eleitorais de Leite. Em Parelheiros, a verba para obras saltou de R$ 8,5 milhões para cerca de R$ 89 milhões. Em Capela do Socorro, foi de R$ 19,4 milhões para R$ 28 milhões, e no M'Boi Mirim, de R$ 13 milhões para R$ 24 milhões. Nas ruas dos bairros, as faixas que pedem desculpa pelos transtornos das obras são assinadas por Leite, mas ele nega que as tenha instalado.

Covas "herdou" Leite quando assumiu a Prefeitura, em 2018. O vereador novamente assumiu o papel de articulador, sendo um dos capitães do processo de escolha do candidato a vice do atual prefeito, que tenta a reeleição. Ele tentou emplacar um dos filhos e, quando não conseguiu, bloqueou a articulação por uma chapa pura do PSDB. Por fim, foi decisivo na escolha de Ricardo Nunes, do MDB. "Milton Leite é um aliado e amigo. Foi e é um vereador importante para o prefeito e para o governador João Doria", disse Fernando Alfredo, presidente do PSDB da capital.

Origens

A habilidade em tecer relações entre políticos vem do primeiro cargo de destaque que ocupou na Câmara. Por sete anos, durante os governos de José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD), Leite se alternou entre presidente ou relator da Comissão do Orçamento. Era com ele que vereadores e o Executivo tinham de discutir as emendas parlamentares. Após a saída de outro cacique do Legislativo, Antônio Carlos Rodrigues (PL), em 2012, tornou-se o parlamentar mais influente da Casa.

Milton Leite iniciou sua vida política no fim dos anos 1970, filiado ao PCdoB, participando de mutirões de moradia. Sua influência vem também da atuação para a legalização de áreas ocupadas irregularmente. Parte da verba extra em Parelheiros, por exemplo, está sendo usada para construir calçamento ecológico em áreas de manancial, que não podem ter asfalto. Quando se elegeu pela primeira vez, já havia migrado para a direita, escolhendo o DEM. Nos anos 1980, abriu uma construtora, de onde afirma vir seu patrimônio declarado em R$ 3,6 milhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Estadão
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