Canadá mantém silêncio sobre denúncias de espionagem feitas pelo Brasil
O Canadá negou-se nesta segunda-feira a comentar as revelações da Rede Globo segundo as quais Ottawa, assim como Washington, teria espionado as comunicações do Ministério das Minas e Energia com objetivos econômicos.
"Não comentamos as atividades de coleta de dados no exterior", declarou à AFP Julie Dimambro, porta-voz do Ministério da Defesa do Canadá.
Mais cedo, a presidente Dilma Rousseff condenou a espionagem supostamente realizada pelo Canadá e pediu aos Estados Unidos e a seus aliados que parem com este tipo de ação.
"A denúncia de que o Ministério da Energia foi alvo de espionagem confirma as razões econômicas e estratégicas por trás desses fatos", afirmou Dilma em seu Twitter.
A presidente disse que o caso mostra o interesse do Canadá no setor minerador brasileiro.
"Isso é inadmissível em países que pretendem ser sócios. Repudiamos a guerra cibernética", afirmou. "É urgente que os Estados Unidos e seus aliados encerrem suas ações de espionagem de uma vez por todas", acrescentou.
Em função da denúncia, a Chancelaria brasileira convocou o embaixador do Canadá, Jamal Khokhar, para expressar sua indignação e repúdio pelo suposto caso de espionagem.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o chanceler brasileiro Luiz Alberto Figueiredo manifestou ao colega canadense a indignação de seu governo e pediu explicações.
O chanceler enfatizou "o repúdio do Governo a esta grave e inaceitável violação da soberania nacional e dos direitos das pessoas e das empresas", segundo o comunicado oficial.
A Rede Globo revelou no domingo um suposto documento da Agência Canadense de Segurança nas Telecomunicações (CSEC) que mostra um esquema detalhado das comunicações do Ministério das Minas e Energia brasileiro, incluindo chamadas telefônicas, correios eletrônicos e navegação na internet.
Segundo a Globo, o documento foi vazado pelo ex-consultor da inteligência americano Edward Snowden, que teve acesso a ele em uma reunião de junho de 2012 entre analistas das agências de inteligência dos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia, os 'Five Eyes' (cinco olhos), como o grupo é conhecido.
Nos últimos meses, a imprensa publicou documentos atribuídos à Agência de Segurança Nacional americana (NSA) sobre espionagem das comunicações de Dilma, de seus assessores e de milhões de brasileiros, além da Petrobrás.
Dilma denunciou na época que essa espionagem não era por razões de combate ao terrorismo, como haviam argumentado inicialmente os Estados Unidos, e sim econômicas.
"Tudo indica que os cinco governos e milhares de empresas prestadoras de serviço podem ter acesso aos dados da NSA amplamente", acrescentou Dilma em seu tuíte.
Segundo a Globo, o programa de espionagem canadense chamado Olympia, fez um "mapeamento" das comunicações telefônicas e dos computadores do ministério. O objetivo era "descobrir contatos realizados com outros órgãos, dentro e fora do Brasil, além da Petrobrás".
No documento, que não revela em que período isso aconteceu, é apresentado um registro das ligações do Ministério das Minas e Energia brasileiro para outros países, com contatos com a Organização Latino-americana de Energia (Olade), no Equador, e com a embaixada brasileira no Peru.
As comunicações com países do Oriente Médio, África do Sul e até com o próprio Canadá foram incluídas no relatório.
"A espionagem atenta contra a soberania das nações e a privacidade das pessoas e empresas", insistiu a presidente.
O documento canadense também tem instruções sobre quais seriam os próximos passos da inteligência em relação ao Brasil, o que inclui a utilização de um grupo chamado TAO, descrito pela Globo como a tropa de elite da espionagem americana.