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Política

Candidatos brasileiros poderão ser punidos se usarem robôs para 'fake news' em 2018

#SalaSocial Em meio a escândalo de notícias falsas plantadas por russos nas eleições dos EUA, TSE deve atualizar regras sobre campanha online ainda neste ano.

6 nov 2017 - 08h36
(atualizado às 09h37)
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Enquanto Facebook, Google e Twitter prestam contas ao Congresso americano sobre notícias falsas pagas por estrangeiros para influenciar as eleições de 2016 nos Estados Unidos, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) corre contra o tempo para atualizar as normas eleitorais brasileiras, que não têm regras claras sobre anúncios patrocinados por políticos, financiamento de candidatos por moedas digitais e uso de robôs para alavancar discussões em redes sociais.

O volume de ataques envolvendo políticos que já confirmam pré-candidatura preocupa os ministros do TSE, que também acompanham os desdobramentos de escândalos envolvendo notícias falsas em eleições nos EUA e França - das quais o Brasil participou como observador.

A menos de um ano das próximas eleições presidenciais, o TSE se prepara para divulgar até dezembro um conjunto de novas regras de comportamento online para partidos e candidatos, segundo autoridades familiares com as negociações.

O maior desafio neste momento, pelo que a BBC Brasil apurou, é determinar critérios objetivos para a constatação de que uma notícia ou história seja falsa - ou "fake news" -, sem deixar brechas para reações negativas a supostas "censuras" de conteúdos pela Justiça eleitoral.

Os ministros não devem proibir definitivamente o uso de robôs em campanhas para divulgação de agenda e plataformas de governo, mas candidatos que usarem a ferramenta para ofender oponentes ou distorcer resultados de enquetes e pesquisas online deverão ser punidos.

Para identificar e monitorar a existência dos robôs - programas que enviam mensagens automaticamente através de perfis genéricos ou mesmo falsos - o TSE contará com ferramentas desenvolvidas pelo ministério da Defesa e da Associação Brasileira de Inteligência (Abin) no ano passado, durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro, para monitorar grupos ligados a atividades extremistas.

"Não queremos controlar conteúdo. Nosso trabalho é regular robôs e instrumentos que podem multiplicar informações falsas", afirmou um porta-voz do Tribunal, que preferiu manter a identidade em sigilo.

"A regulamentação vai dar segurança jurídica para os candidatos, que saberão o que podem ou não podem fazer na internet."

Nesta semana, o ministro Gilmar Mendes, presidente do TSE, comentou sobre um grupo de trabalho criado para discutir as novas regras.

"Precisamos realmente acompanhar essa nova realidade, que teve repercussão em várias eleições", afirmou.

Bitcoins

Além de definir que tipos de postagens - entre as circuladas com informações falsas - serão enquadradas como calúnia, injúria e difamação, o Tribunal quer atualizar regras sobre prestação de contas, incluindo o financiamento de campanhas por moedas digitais, como o bitcoin, cuja negociação é mais difícil de rastrear.

Em 2014, o FEC (comitê eleitoral do governo dos EUA) aprovou doações individuais em moedas criptografadas para campanhas, com limite de US$ 100 por turno. A medida ainda sofre resistência e é debatida em vários países, já que o uso de moedas digitais poderia estimular transações secretas, incluindo lavagem de dinheiro.

Na regra americana, que pode servir como referência para a nova legislação brasileira, todos os recursos doados por bitcoins devem ser convertidos em dólares e depositados nas contas oficiais de campanha junto a informações claras sobre os doadores.

No Brasil, a moeda virtual ganha popularidade há pelo menos três anos, mas ainda não tem regulação eleitoral.

Além das revelações sobre notícias falsas em eleições estrangeiras (como no ano passado, na França, quando o atual presidente, Emmanuel Macron, foi alvo de notícias falsas sobre investimentos sigilosos nas Bahamas), o debate no Tribunal Superior Eleitoral surge da reforma política aprovada no início de outubro, que permitiu de maneira genérica o "impulsionamento de postagens" por candidatos, sem definir detalhes.

Na avaliação do TSE, a nova lei aprovada pelo Congresso brasileiro pode abrir brechas para problemas como o enfrentado pelos Estados Unidos nas últimas eleições presidenciais - uma das mais polarizadas da história recente no país.

Sob pressão de congressistas democratas e republicanos, em uma série de três sabatinas realizadas na semana passada, executivos das principais plataformas digitais - Facebook, Google e Twitter - reconheceram que o estrago produzido por notícias falsas financiadas por russos em seus portais foi mais de 10 vezes maior do que o divulgado anteriormente.

Zuckerberg, CEO do Facebook: Rede social vai duplicar número de revisores de conteúdo após ter sido canal de notícias falsas nas eleições dos EUA
Zuckerberg, CEO do Facebook: Rede social vai duplicar número de revisores de conteúdo após ter sido canal de notícias falsas nas eleições dos EUA
Foto: BBC News Brasil

'Fake news' russas

Só no Facebook e no Instagram, pelo menos 150 milhões de americanos, ou metade da população dos EUA, teriam sido expostos a notícias falsas patrocinadas por dinheiro russo, segundo informações reveladas pelas redes na semana passada - após meses de cobrança de congressistas nos EUA sobre detalhes dos anúncios.

"O que eles fizeram foi errado e não vamos apoiar isso", lamentou o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, que reconheceu a rede social foi usada "para semear a desconfiança" nas eleições americanas e prometeu duplicar para 20 mil o número de revisores de conteúdo contratados.

No Twitter, 4 milhões de postagens ligadas a robôs russos entre setembro e novembro de 2016 tiveram 288 milhões de visualizações.

Questionados pela reportagem, porta-vozes do TSE negaram que existam investigações no Brasil sobre uma possível influência de estrangeiros em eleições passadas.

Entre os exemplos de postagens manipuladas recém-reveladas nos EUA, uma série de memes mostra, por exemplo, Jesus e uma figura diabólica disputando um "braço de ferro" sob as seguintes frases: "Satan: Se eu ganhar, Clinton ganha! / Jesus: Não se eu puder ajudar! / Aperte 'curtir' para ajudar Jesus a ganhar".

Pagas em rublos russos, a maioria das publicações se destinava a eleitores preocupados com a manutenção do direito ao porte de armas, imigrantes ilegais, protestos movidos por negros contra a violência policial e a presença de muçulmanos em comunidades americanas - e algumas chegavam a convocar usuários a participarem de manifestações políticas nas ruas do país.

Uma das medidas que podem ser adotadas pelo TSE em Brasília é a obrigatoriedade de divulgação dos nomes dos financiadores de anúncios patrocinados nas redes - compromisso recém-firmado pelos três gigantes da tecnologia nos Estados Unidos.

'Espelho'

Alguns congressistas americanos tentam emplacar projetos de lei para limitar a autonomia das redes sociais nos EUA.

Durante as audiências no Congresso, a senadora democrata Dianne Feinstein (Califórnia) chegou a culpar as empresas de tecnologia pela interferência russa, argumentando que os executivos "criaram as plataformas" em que foram divulgadas as notícias falsas.

Mas para a ex-funcionária do departamento de Estado americano Emily Parker, autora de um livro sobre ativismo na internet, a culpa pela divulgação de notícias falsas não deve ser atribuída apenas aos executivos de redes sociais.

"As redes sociais amplificam nossos maus hábitos e até mesmo os encorajam, mas não os criam. O Vale do Silício não está destruindo a democracia - só nós podemos fazer isso", escreveu Parker no jornal The New York Times.

"Facebook e Twitter são só um espelho nos refletindo. Eles revelam uma sociedade dolorosamente dividida, sujeita à desinformação, deslumbrada pelo sensacionalismo e disposta a espalhar mentiras e promover o ódio", afirmou.

"Como nós não gostamos dessa reflexão, culpamos o espelho, nos pintando como vítimas de uma manipulação pelo Vale do Silício."

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