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Política

Carlos Wizard: Das páginas de negócio a investigado pela CPI

Aproximação do empresário com o governo Bolsonaro foi intermediada pelo ex-ministro Eduardo Pazuello

30 jun 2021 - 05h12
(atualizado às 07h25)
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Nome comum nas páginas de negócios, o empresário Carlos Wizard, 64 anos, passou a circular no meio político e se aproximou do governo Bolsonaro durante a pandemia do novo coronavírus. A relação com o presidente se estreitou por intermédio do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que chegou a convidar o empresário para assumir a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, em junho de 2020. Wizard chegou a atuar como conselheiro da pasta, sem remuneração, também no ano passado. Wizard é esperado para depor nesta quarta-feira, 30, na CPI da Covid.

Carlos Wizard
Carlos Wizard
Foto: FELIPE RAU / Estadão Conteúdo

O bilionário, no entanto, desistiu de tomar posse após reações negativas a uma declaração sobre um plano de recontar os mortos pela covid-19. "Não pretendemos desenterrar mortos, não tratamos disso. O que pretendemos é rever os critérios dessas mortes", ele disse em junho do ano passado. Wizard também é defensor do chamado "tratamento precoce", prática que não tem eficácia comprovada contra a covid-19.

A amizade entre o general e o empresário teve início em Roraima através da Operação Acolhida, que foi chefiada por Pazuello e teve a presença constante de Wizard. O empresário mudou-se com a mulher de São Paulo para Boa Vista, em agosto de 2018. Ele foi à região Norte para cumprir uma missão da igreja mórmon Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias - que frequenta desde a adolescência em Curitiba, onde nasceu.

O empresário passou dois anos na fronteira com a Venezuela. No período, trabalhou com os militares na promoção da interiorização de milhares de refugiados.

Até então, Wizard estava mais próximo do grupo de empresários em torno do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Era palestrante frequente nos eventos do Lide, grupo empresarial que promove encontros com empresários, e chegou a ser sondado sobre a possibilidade de candidatar-se à prefeitura de Campinas, no interior paulista, pelo PSDB.

Wizard recusou o convite, com a justificativa de que estava dedicado ao trabalho comunitário na área da saúde. A aproximação com o governo federal começou no mesmo período.

"Na minha coleção de pensamentos, há um que diz assim: o sucesso consiste em antecipar uma tendência de mercado e começar a praticá-la imediatamente", disse Wizard em uma entrevista com Doria em 2011, em um programa na TV Bandeirantes.

Um ano depois de começar a circular pelo Palácio do Planalto, o empresário já não detém o mesmo prestígio que o colocou, em 2014, na lista de pessoas mais ricas da revista Forbes. Na última sexta-feira, 18, ele teve o nome incluído na lista de investigados pela CPI da Covid. Wizard é apontado como integrante do "gabinete paralelo", responsável pelo aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro na condução da pandemia.

Nas redes sociais, Wizard coleciona fotos e distribui elogios a membros do primeiro escalão do governo, como o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, os ministros Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Paulo Guedes (Economia), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e André Mendonça (Justiça), além do próprio presidente Bolsonaro.

Ele também tem registros ao lado da médica Nise Yamaguchi, que admitiu à CPI ter participado de um "conselho científico independente" que tinha a participação do empresário.

Ausência em depoimento

O empresário era esperado na última quinta-feira, 17, para depor à CPI da Covid. Wizard não compareceu após ter entrado com pedido de Habeas Corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) em que pedia permissão para permanecer em silêncio. A situação irritou o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), que solicitou ao STF que o empresário seja conduzido coercitivamente para depor ao colegiado. O ministro Luís Roberto Barroso autorizou a ação na última sexta.

No mesmo dia, a 1ª Vara Federal de Campinas permitiu a retenção do passaporte do empresário assim que ele voltar ao Brasil.

Origem

Registrado como Carlos Roberto Martins, o curitibano é mais conhecido pelo sobrenome que adotou no fim dos anos 1980 e dá nome à franquia de escolas de inglês que fundou, a Wizard (ou "mago", em português).

O interesse do empresário pelos refugiados venezuelanos tem origem na própria história de vida. Mais velho de sete filhos de um motorista e uma costureira, ele migrou para os Estados Unidos aos 17 anos. Por lá, ele aprendeu o método de ensino usado em escolas mórmons ligadas à Igreja dos Santos dos Últimos Dias, e começou a construir seu império de mais de R$ 2 bilhões.

Em 2013, Wizard surpreendeu o mercado ao anunciar a venda do Grupo Multi, dono de sua rede de escolas de inglês Wizard e das escolas profissionalizantes Microlins, à britânica Pearson. A operação, de quase R$ 2 bilhões, foi a maior aquisição em educação já feita no País até então.

Cerca de oito meses depois, ele entrou no mercado de alimentos. Hoje, o empresário é dono de franquias de fast food, como Pizza Hut, KFC e Taco Bell, e da rede de produtos naturais Mundo Verde, além da Ronaldo Academy, escolinha de futebol em parceria com o ex-jogador Ronaldo.

Estadão
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