Celulares apreendidos revelam mensagens entre Aras e empresários bolsonaristas
Assessores do procurador-geral da República afirmam que Aras tem conhecidos no mundo empresarial e mensagens são comentários "superficiais"
Celulares apreendidos pela Polícia Federal, em operação que mirou empresários bolsonaristas que apoiaram um golpe caso Bolsonaro não ganhe as eleições, revelaram troca de mensagens com o procurador-geral da República, Augusto Aras. A informação, confirmada por fontes da PF, do Ministério Público Federal (MPF) e do Supremo Tribunal Federal (STF), foi revelada pelos jornalistas Felipe Recondo e Flávia Maia, do Jota.
Entre as mensagens trocadas com Aras, há críticas à atuação do ministro Alexandre de Moraes e também comentários sobre a candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro (PL). As mensagens ainda são mantidas sob sigilo.
Aras, além de PGR, é também o procurador-geral-eleitoral. A apreesão dos celulares partiu de um inquérito que investiga atos antidemocráticos, já que mensagens privadas com teor golpista foram reveladas na última semana.
Segundo a PGR, o relator do processo no STF, o ministro Alexandre de Moraes, autorizou as buscas e só comunicou o órgão depois de iniciada a operação da PF na manhã desta terça-feira, 23. No entanto, fontes ligadas a Moraes desmentem e afirmam que a PGR foi informada da operação na segunda-feira, 22.
Aras e empresários
Um dos amigos de Aras é o empresário Meyer Nigri, da construtora Tecnisa, que foi citado no discurso de Aras ao assumir a PGR.
"Não posso deixar de cumprimentar um amigo de todas as horas neste momento em que vivenciamos. E faço uma homenagem especial ao amigo Meyer Nigri, em nome de quem cumprimento toda a comunidade judaica, que comemorou 5.780 anos nos últimos dias", disse Aras, na ocasião.
De acordo com assessores de Aras, o procurador-geral da República tem conhecidos e amigos no mundo empresarial e, portanto, há conversas entre eles. Os assessores reiteram que Aras soube somente nesta terça-feira da operação e, portanto, não trocou informações sobre as diligências policiais. Eles ainda afirmam que as mensagens enviadas por Aras a um dos empresários, agora alvo da investigação, são comentários apenas "superficiais".
Contra operação
Mais cedo, segundo revelou a Folha de S. Paulo, Aras teria demonstrado irritação com a operação contra empresários bolsonaristas. A operação foi deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira, 23, e autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Segundo a Folha, relatos apontam que Aras acredita que o gesto de Moraes, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pode implodir os esforços do Executivo e do Judiciário, que tentam conseguir um acordo harmônico para que o presidente Jair Bolsonaro (PL) pare de fazer declarações golpistas e também contra as cortes.
Apoio ao golpe
A coluna de Guilherme Amado, do Metrópoles, teve acesso ao conteúdo de um grupo de whatsApp com empresários bolsonaristas. No aplicativo, o empresário José Koury defendeu explicitamente uma ruptura na democracia do País.
"Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo", afirmou ele, deixando implícito que não se importaria que o Brasil virasse uma ditadura novamente.
A mensagem recebeu apoio de parte dos integrantes do grupo, como o de Morongo, como é conhecido o dono da rede de lojas de surfe Mormaii. "Golpe foi soltar o presidiário! Golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição! Golpe é a velha mídia só falar m...".
Morongo também citou os atos marcados para o 7 de Setembro. "Está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro”, escreveu.
Ainda no mesmo dia, André Tissot, do Grupo Sierra, endossou a opinião sobre o golpe e disse que a ruptura já deveria ter ocorrido antes: "O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. [Em] 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais".