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Tatiana Farah

Abandonados pelo líder, bolsonaristas de quartel batem nos jornalistas

Depois de uma semana de novo governo, sem golpe, a realidade enche os manifestantes de ódio.

7 jan 2023 - 16h40
(atualizado às 16h42)
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Derrotados e abandonados pelo líder, que embarcou para a Flórida, os bolsonaristas de quartel descontam sua fúria em jornalistas que cobrem seus acampamentos. Ontem (6.jan), um grupo enfurecido partiu para cima de repórteres de diversos meios de imprensa em Belo Horizonte. A guarda municipal estava desmontando o acampamento deles, que, por quase três meses, ficaram pedindo golpe militar. Era frustração demais para eles. No meio da semana, outro jornalista já havia sido agredido no mesmo local, sem nenhum amparo policial. 

Cinegrafista é atacado pelas costas em Belo Horizonte
Cinegrafista é atacado pelas costas em Belo Horizonte
Foto: Reprodução/Twitter

Desde o começo do ano, foram ao menos sete casos de violência contra repórteres que foram até os quartéis fazer o trabalho básico de mostrar ao país como estavam reagindo os brasileiros que se negam a aceitar o resultado eleitoral. Nesse refugo do movimento golpista, quando o novo presidente já está até dando bronca em seus ministros, sobrou apenas ódio e quem sabe muita loucura.

A violência é tanta que até o ex-secretário de comunicação de Jair Bolsonaro se preocupou. Em postagem no Twitter, Fabio Wajngarten disse o óbvio: é inadmissível agredir um jornalista no exercício da função. "A Direita e o Conservadorismo possuem valores claros e definidos: pregam a liberdade e o respeito. Quem se comportar diferente é oportunista alpinista que só atrapalha e nos enfraquece", escreveu. As respostas ao ex-porta-voz do ex-presidente são assustadoras. Pelo visto, Wajngarten terá de tomar cuidado agora com seus próprios pares, sob risco de acabar apanhando _ real ou virtualmente.

Foto: Reprodução/Twitter

Bater em jornalista virou o novo esporte nacional do Brasil invertido. Entre os comentários na postagem de Wajngarten tem até figurinha com dizeres de que agredir repórter é "gostoso demais". A liberdade de imprensa é direito constitucional e uma imprensa livre e segura é essencial para manter o motor da democracia funcionando. 

Mas democracia é tudo o que essas pessoas que se amontoaram nos quartéis não querem. Elas se ressentem do fim da ditadura, muitas sentindo saudade de um tempo em que nem tinham nascido. 

Durante todo o governo, Bolsonaro e auxiliares como Wajngarten alimentaram essa turba. A cada malfeito ou erro de seu governo relatado pela imprensa, ele culpava a mensageira. Ele era perfeito demais, a imprensa é que estava estragando tudo.

Culpar o mensageiro não é estratégia inventada pelo bolsonarismo. Mas Bolsonaro carregou essa tática com muito ódio. E, nos dois meses em que ficou trancado no Palácio do Alvorada (pelo visto sem zelar pelo patrimônio público que o local guarda), o então presidente apenas se manifestou para dizer que pedir intervenção militar era uma questão de liberdade de expressão.

A liberdade de expressão é um direito, bater nos outros é um crime. Bater em jornalista não é "gostoso demais". Gostoso demais seria ver esses agressores punidos depois de devidamente julgados. 

Fonte: Tatiana Farah Tatiana Farah é jornalista de política há mais de 20 anos. É repórter da Agência Brasília Alta Frequência. Foi gerente de comunicação da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Repórter do BuzzFeed News no Brasil de 2016 a 2020.  Responsável por levar os segredos do Wikileaks para O Globo, onde trabalhou por 11 anos. Passou pela Veja, Folha de S. Paulo e outras redações, além de assessorias de imprensa. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra. 
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