Auxílio Brasil teve impacto pequeno no voto dos mais pobres
Os dados derrubam a aposta de quem dizia que o eleitorado pobre se jogaria nos braços do presidente por causa do Auxílio Brasil de R$ 600
O presidente Jair Bolsonaro bem que tentou, mas não convenceu os pobres com o Auxílio Brasil. É certo que, de acordo com as pesquisas Ipec divulgadas pela TV Globo, Lula perdeu 9 pontos entre os eleitores que recebem até R$ 1 mil por mês, mas ainda lidera com folga, tendo 50% desse eleitorado. Com todos os benefícios do Auxílio Brasil, nessa faixa, Jair Bolsonaro tem o voto de 24% (no início do mês, antes da liberação do auxílio de R$ 600, tinha 19%). Lula lidera também entre quem tem renda entre um e dois salários mínimos (43 a 29, antes era 41 a 28). Vale dizer ainda que Lula tem 50% dos votos de quem estudou até o ensino fundamental.
Analisados com calma, esses dados derrubam a aposta de quem dizia que o eleitorado pobre se jogaria nos braços do presidente por causa do Auxílio Brasil de R$ 600. É até ultrajante a forma como muitos políticos e estrategistas tratam o eleitor pobre como um produto barato na prateleira. O eleitor pobre é pragmático. Ele tem de ser pragmático porque qualquer deslize em sua vida custa muito caro.
Por certo, há algum espaço para a esperança nesse pragmatismo porque, na real, sem esperança não se vive. E o brasileiro é aquela pessoa que tenta ser feliz: só isso explica como 72% de nós estamos satisfeitos ou muito satisfeitos com a vida que levamos. O índice cai para 62% entre os que recebem até R$ 1 mil por mês, mas ainda assim é um dado impressionante.
Essa satisfação do brasileiro é um bom sinal para Bolsonaro. Mostra que o eleitorado, neste momento, não está no pique de grandes mudanças. Pode ser um efeito também da normalização de um governo catastrófico em diversos pontos. São tantos os problemas que nos acostumamos a eles.
Embora surfe nesse eleitorado mais pobre, Lula tem de parar um pouco de ficar olhando para trás. Ter sido um presidente melhor do que Bolsonaro, de acordo com a opinião pública (saiu do governo com mais de 80% de aprovação em 2010), não é garantia de que será melhor agora. No debate exibido na Band, poderia ter descido do salto para mostrar propostas. E para explicar como vai tirar o Brasil do Mapa da Fome, como vai gerar emprego. Como sabemos, o eleitor é pragmático. Quer saber o que o espera a partir de 2023.