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Tatiana Farah

Bolsonaro faz questão de expor seu choro novamente

Está na hora do capitão dizer para si mesmo: "Chega de mimimi"

27 fev 2023 - 12h19
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Bolsonaro faz questão de expor seu choro novamente
Bolsonaro faz questão de expor seu choro novamente
Foto: Reprodução/Instagram

“Não perca a tua fé, acredite em você, um escolhido do Senhor”, canta o violeiro, ao lado de Jair Bolsonaro, sentado à mesa, com uma camiseta do Flamengo. O show é do cantor, mas a câmera mira no ex-presidente, que, mais uma vez, vai às lágrimas. A cena foi filmada para ir às redes do ex-capitão.

Mais uma vez, Bolsonaro faz questão de expor seu choro, seu lamento. Acusado de ser desumano durante todo o seu mandato, o ex-presidente já juntou um rio de lágrimas desde que perdeu as eleições, em outubro do ano passado. 

O problema é que nenhuma lágrima de Bolsonaro filmada com zoom até hoje foi para outra pessoa que não ele mesmo. Se queria parecer demasiado humano, seria bom que o ex-presidente chorasse por causa de alguém, dos 600 mil mortos na pandemia sob seu governo, pelos índios dizimados em Roraima; enfim, os motivos para chorar são muitos.

Mais de um milhão e meio de fãs curtiram o vídeo de choro de Bolsonaro, é fato. As pessoas se comovem quando seu herói chora. Até mesmo nos filmes de roteiro mais tacanho há sempre esse impacto.

Mas não é com lágrimas de autocomiseração e ressentimento que Bolsonaro conseguirá liderar a oposição. 

Na política, a estratégia de vitimização nunca funcionou. É que, para o bolsonarismo, as conquistas sociais e os direitos humanos não são vistos como frutos de luta, mas como ressonância do “mimimi”. Aí está o equívoco, que ressoa nos vídeos de choro do ex-presidente.

Já se passaram quatro meses da derrota. É hora de enfrentar as consequências. A crítica de Carla Zambelli, quem diria, é bastante pertinente. Ao comandante não é permitido abandonar o posto.

No Congresso, a oposição já mostrou que agirá muito mais com a cabeça do que com o fígado. Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas deixou claro que não será um Bolsonaro 2.0 e suas declarações estão longe de ser uma oposição a Lula. Na Assembleia Legislativa, o PL faz acordo com o PT para liderar a Casa. E o presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, já combinou sair de braços dados com Michelle Bolsonaro para lançá-la nacionalmente.

Não existe vácuo no poder.

Fonte: Tatiana Farah Tatiana Farah é jornalista de política há mais de 20 anos. É repórter da Agência Brasília Alta Frequência. Foi gerente de comunicação da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Repórter do BuzzFeed News no Brasil de 2016 a 2020.  Responsável por levar os segredos do Wikileaks para O Globo, onde trabalhou por 11 anos. Passou pela Veja, Folha de S. Paulo e outras redações, além de assessorias de imprensa. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra. 
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