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Tatiana Farah

Bolsonaro sai ileso de debate em que terceirizou ataques a Lula

30 set 2022 - 02h44
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Candidatos à Presidência da República posam para foto antes do início do debate
Candidatos à Presidência da República posam para foto antes do início do debate
Foto: Cristiane Mota/FotoArena / Estadão

O presidente Jair Bolsonaro (PL) evitou o enfrentamento com Lula (PT) no debate da Globo e empurrou para outros candidatos os ataques ao ex-presidente petista. Mas o maior embate entre eles ocorreu de forma lateral, com os seguidos direitos de resposta que esticaram o programa e o tornaram ainda mais exaustivo.

Bolsonaro tinha a seu lado Padre Kelmon (PTB), chamado de “cabo eleitoral” por Soraya Thronicke (UB), que o definiu como um “padre de festa junina”. Lula não teve paciência com o candidato, disse que ele estava fantasiado de padre e era laranja. Para Renata Lo Prete, do Jornal da Globo, negou que tenha perdido as estribeiras: “Eu não perdi as estribeiras, era importante dizer alguma coisa desse cidadão.”

Ao final, Padre Kelmon se vitimizou e disse que era assim, com ofensas, que eles (Lula) tratam os religiosos. Ou seja, o petista caiu na armadilha do candidato do PTB e pode ter ganhado ainda mais antipatia do eleitor religioso. Sua sorte, no entanto, é que Kelmon, de uma remota igreja do Peru, pode não ser identificado como representante legítimo dos evangélicos.

Com Ciro Gomes (PDT) e Felipe D’Ávila (Novo) batendo em Lula sem dó, Bolsonaro deve ter pensado que faria uma dobradinha com Simone Tebet (MDB). Quis empurrar para ela a afirmação, jamais comprovada pela polícia e pela Justiça, de que Lula teria ligação com a morte de Celso Daniel.

Tebet mostrou que não está na política para servir de escada para ninguém. Chegou a dizer que Bolsonaro não perguntava diretamente a Lula por covardia. Ainda assim, Bolsonaro seguiu sua estratégia de não perguntar nada ao petista, sempre terceirizando os ataques.

Com Lula no centro do embate, o presidente ganhou fôlego e mostrou mais tranquilidade. Poderia-se dizer que saiu ileso do debate, tendo em vista que sua semana foi cheia de notícias negativas, como a investigação dos gastos de seu gabinete e o tiro no pé que foi o relatório sobre as urnas eletrônicas chamado de mentiroso pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

Mais uma vez, os candidatos atenderam muito mais a suas torcidas do que ganharam novos eleitores. Todas as pesquisas indicam que o voto do brasileiro já está definido. Mas, com a exaustão desse debate e de longos meses de brigas entre políticos e eleitores, talvez uma parte dos eleitores desista de votar. E é esse o temor maior de Lula, que espera encerrar a eleição no primeiro turno.

Fonte: Tatiana Farah Tatiana Farah é jornalista de política há mais de 20 anos. É repórter da Agência Brasília Alta Frequência. Foi gerente de comunicação da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Repórter do BuzzFeed News no Brasil de 2016 a 2020.  Responsável por levar os segredos do Wikileaks para O Globo, onde trabalhou por 11 anos. Passou pela Veja, Folha de S. Paulo e outras redações, além de assessorias de imprensa. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra. 
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