Cem dias sem emprego
Lula culpa juros altos do Banco Central, mas o fato é que o desemprego atinge 9 milhões de brasileiros
Bolsa Família, Mais Médicos e Minha Casa Minha Vida são a tríade usada pelo presidente Lula para reforçar seu slogan de que “o Brasil voltou”. Na economia, o marco dos 100 dias de governo petista foi o anúncio do novo arcabouço fiscal, cujo maior desafio será aumentar a arrecadação diante de um país que insiste em não crescer. A geração de empregos, no entanto, segue por enquanto apenas como uma promessa de campanha.
O IBGE anunciou em março que o Brasil fechou o ano de 2022 com uma taxa aumentada de desemprego: 8,4% no último quadrimestre. Isso quer dizer que o governo Lula começou com 9 milhões de desempregados. Segundo analistas de mercado, o índice, embora seja o menor desde 2015, quando o desemprego (ainda no governo Dilma) estava em 6,9%, mostra uma piora da economia, que havia sido impulsionada com o recuo da pandemia de Covid 19.
A criação de empregos este ano também é desanimadora. Em fevereiro, foram assinadas 241,8 mil carteiras de trabalho, uma queda de 26,4% em relação ao mesmo período de 2022.
Lula responsabiliza o Banco Central pela estagnação econômica, uma vez que os juros seguem altos, em 13,75% ao ano. Mas o petista, até o momento, não lançou um programa consistente de geração de emprego. A tão falada política de valorização do salário mínimo não passou de um aumento de R$ 18 no que já havia sido anunciado pelo ex-presidente Bolsonaro: de R$ 1.302 para R$ 1320.
As centrais sindicais chegaram a protestar contra o novo mínimo, mas devem seguir no Primeiro de Maio apenas reivindicando a geração de novos empregos. Mais que 9 milhões de desempregados o país vive a precarização do mercado de trabalho, simbolizada pela falta de segurança trabalhista de entregadores e motoristas de aplicativo.
O presidente Lula anulou dezenas de decretos do governo Bolsonaro, reinstalou ministérios cancelados por ele e derrubou sigilos. Mas a realidade é bem mais dura. Como o próprio petista escreveu hoje em artigo no Correio Braziliense, 100 dias é pouco diante dos 1360 que o governo tem pela frente. No entanto, quem tem fome tem pressa. E não estamos falando da promessa de picanha.