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Tatiana Farah

Em sabatina, Simone tenta apagar Dilma da História

26 ago 2022 - 21h57
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Simone Tebet (MDB), candidata à Presidência, em entrevista ao JN nesta sexta-feira, 26
Simone Tebet (MDB), candidata à Presidência, em entrevista ao JN nesta sexta-feira, 26
Foto: TV Globo / Reprodução

Simone Tebet tem um discurso bonito, afinado com as desigualdades sociais. Diz como é difícil ser mulher na vida privada e na vida pública. Mas fez, na sabatina do Jornal Nacional desta sexta-feira, o que tem feito insistentemente em seu discurso: se coloca como a primeira mulher a concorrer a presidente da República. Hoje chegou a dizer que é uma situação inédita. Não é.  

Ela pode estar se referindo apenas a seu partido, o MDB, liderado, sobretudo, por homens brancos, sejam eles da nova ou da velha versão da legenda. Mas o que se vê é uma sistemática tentativa de apagamento de Dilma Roussef, presidente que gostava de ser chamada de presidenta, eleita democraticamente por dois mandatos e, depois, “impichada”.

Pode-se gostar ou não gostar da ex-presidente. Ela é controversa até para os lulistas. Mas não se pode apagá-la. Ela, sim, é a primeira mulher presidente do Brasil. Esse navio já zarpou, Simone. A candidata esqueceu também que há outras mulheres disputando a mesma vaga em 2022: Vera Lúcia (PSTU) e Sofia Manzano (PCB), além da também senadora do mesmo estado de Tebet, Soraya Thronicke (UB).

Como mulheres, sabemos que toda conquista feminina é um processo de construção de gerações que vieram antes de nós. Então, respeitemos. Do contrário, serão sempre só palavras e muita propaganda. 

Corrupção dos vizinhos

Simone Tebet explicou no JN como é feito o processo de “depuração” do MDB. O inferno é os outros, como escreveu Sartre, neste caso, os caciques do partido que, nas palavras dela, lhe puxaram o tapete. E que esses seriam os aliados do ex-presidente Lula.

Mas o fato é que a senadora não conseguiu a adesão de muitas lideranças do MDB. Segundo Bonner, de 9 estados e do Distrito Federal, ultrapassando 50 milhões de eleitores. E, mais que isso, tem de aguentar outras puxadas de tapete de líderes do PSDB. A candidata Soraya, por exemplo, foi recebida com toda a pompa pelo ex-governador Eduardo Leite, que tenta voltar ao governo do Rio Grande do Sul depois de uma frustrada tentativa de ser candidato a presidente.

Um ponto positivo foi que ela se manteve firme ao defender seus programas contra a desigualdade, como o seguro para trabalhadores informais num modelo parecido com a Previdência.

Esqueceu Bolsonaro

Simone Tebet, que tanto fala de desigualdades, fome e miséria, perdeu a chance de citar e condenar a fala de hoje do presidente Bolsonaro, que afirmou que “não existe fome para valer” no Brasil. Repetimos aqui os números para ninguém esquecer: 33,1 milhões de brasileiros famintos.

A candidata preferiu falar mais de Lula. Mal, é claro, como se espera de um/uma adviersário/a.

Fonte: Tatiana Farah Tatiana Farah é jornalista de política há mais de 20 anos. É repórter da Agência Brasília Alta Frequência. Foi gerente de comunicação da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Repórter do BuzzFeed News no Brasil de 2016 a 2020.  Responsável por levar os segredos do Wikileaks para O Globo, onde trabalhou por 11 anos. Passou pela Veja, Folha de S. Paulo e outras redações, além de assessorias de imprensa. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra. 
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