Ministros já batem cabeça. Bem-vindo, isso é um governo
A tal frente ampla é difícil de administrar.
Chega de abraços e felicitações. Calma, gente, são só 3 dias de trabalho. Mas o novo governo em Brasília começa a mostrar as diferenças entre seus vários ministros. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva arrumou mais ministérios, chegando a 37, fora as supersecretarias. Muitos chefes, que já começam batendo cabeça. É o que ocorreu hoje com o ministro da Previdência, Carlos Lupi, e o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa.
Lupi, que preside o PDT, assumiu o ministério afirmando que vai rever as reforma da Previdência. A notícia incendiou o mercado e deixou em pânico a Faria Lima. Rui Costa trouxe o balde água fria: não tem nada de reforma da reforma previsto para o governo. Ao chamar Lupi para o Planalto, Lula já havia comprado uma briga com a Força Sindical, que, pelo Solidariedade, esperava o posto. Como sindicalista não enrola, o presidente da Força, Miguel Torres, foi direto: deixou de ir à posse de Lula no dia 1º. Para quem não entendeu, ele desenhou: disse claramente que era uma forma de mostrar sua insatisfação.
Parece estranho mesmo Lula não contemplar a Força Sindical, que esteve do seu lado desde o primeiro turno. Quer dizer, estranho não é porque o PDT tem 17 deputados e o Solidariedade tem 4, mais os 3 do Pros, que se uniu a ele para que ambos não perdessem o acesso ao Fundo Partidário. Isso sem contar que Lupi foi ministro de Lula e tentou, a seu modo, manejar a fúria de seu candidato, Ciro Gomes, contra o petista. Não funcionou muito. E, pelo jeito, o Ministério da Previdência vai dar dor de cabeça.
No destino da economia, as rixas também estão sendo reveladas. De um lado, Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento), mais preocupados com o equilíbrio fiscal (se bem que Simone não gostou do termo "âncora fiscal" usado por Haddad). De outro, Gleisi Hoffman (a ministra sem ministério) e Aloizio Mercadante (BNDES), com uma visão mais política e desenvolvimentista. Poderia ser um bom debate se: 1) o mercado não tremesse a cada anúncio das duas partes; 2) o PT não fosse sempre comido por dentro, com a guerra fratricida de vaidades. A ver.
Também será interessante acompanhar a relação da ministra do Turismo, Daniela Carneiro (UB), que parece ter muitos amigos milicianos, com o novo presidente da Embratur, Marcelo Freixo (PSB), um dos maiores inimigos das milícias no Rio.
E, para quem esperava uma reação forte contra os movimentos golpistas dos bolsonaristas de quartel, outro banho de água fria. O novo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse que tem parentes e amigos nos acampamentos e que tudo não passa de uma manifestação democrática. Uma posição bem diferente da opinião do ministro da Justiça, Flávio Dino. Tudo bem que a frente é ampla, mas assim também fica difícil.
Felizão, mesmo, está o vice-presidente da República. Tomou posse no carro oficial, beijou dona Lu em público e assumiu hoje o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço. Com suas meias divertidas, Geraldo Alckmin vai conversar com os empresários, com quem já tem excelente relação, e ficar longe da fogueira de vaidades que eleva, desde sempre, a temperatura do gabinete presidencial.
Em tempo: desde que começaram os acampamentos até o dia 1º, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) registraram 70 ataques contra repórteres que estavam trabalhando, a maioria esmagadora nesses acampamentos e nos bloqueios de rodovia. Só ontem, se somaram aos 70 dois outros casos: um deles de agressão física em Porto Alegre.