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Tatiana Farah

O bolsonarista de quartel que queria explodir o aeroporto

O nome disso é terrorismo. Não é loucura.

25 dez 2022 - 14h31
(atualizado às 14h51)
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Aceitar o resultado das urnas é uma engrenagem que mantém a democracia viva. Ganhar, perder, aceitar e seguir. São inúmeros os pesquisadores e cientistas políticos e sociais que têm apontado para os riscos que a extrema-direita do bolsonarismo tem causado ao país, sobretudo com a negação das eleições. A tentativa de um ato terrorista às portas do novo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva é reflexo direto desse extremismo e, mais que isso, da impunidade e da conivência de determinados setores do poder público e da esfera privada.

O bolsonarista de quartel tem sido tratado a pão-de-ló. Quem frequenta os acampamentos se impressiona com a organização de barracas e com o menu disponível para os amotinados. Quem paga por tudo isso? Por que as forças de segurança aceitam, silentes, essa bravata?

Arsenal encontrado com empresário que plantou a bomba
Arsenal encontrado com empresário que plantou a bomba
Foto: Reprodução/Polícia Civil DF

O empresário preso na noite de sábado depois de tentar explodir um caminhão de combustível perto do aeroporto de Brasília, um desses CACs que se sentiram empoderados com o governo Jair Bolsonaro, deixou claro para a polícia que sua intenção era política. Foi preso com um arsenal de causar inveja a qualquer chefe de milícia ou traficante.

O caminhoneiro, um homem que estava trabalhando na véspera de Natal, notou algo errado em seu caminhão e acionou a polícia do Distrito Federal. É curioso que os bolsonaristas de quartel tenham um discurso que defenda a família, a ordem e, sim, os caminhoneiros, mas um terrorista fruto desse acampamento sequer se preocupou com o trabalhador que eles tanto defendem.

É bom que caminhoneiros e outras categorias de trabalhadores olhem bem para esses bolsonaristas de quartel e saibam que, quando citados, são apenas instrumentos para atender a interesses maiores e mais escusos.

O silêncio conivente do presidente da República, que, como adiantamos aqui, não passará a faixa para Lula,  alimenta arroubos de sandice e, temos de dizer, alimenta essa sanha terrorista. Ou não?

Flávio Dino, novo ministro da Justiça, anunciou hoje que não haverá impunidade. Disse que os acampamentos são “incubadoras de terroristas”. A incubadora pode ter se instalado nos acampamentos, mas a temperatura para gestar esse tipo de atrocidade e canalhice vem das autoridades que deixaram correr solto o protesto que pede golpe militar.

Que Flávio Dino vá mesmo a fundo nessas investigações e não deixe a conta na mão apenas do empresário preso, como se fosse um maluco fora do esquadro. Tem, sim, muito maluco nesses acampamentos. Pessoas que perderam a noção da realidade. O bolsonarista de quartel virou uma espécie de napoleão de hospício. Mas o que ocorreu no aeroporto não é loucura. É terrorismo.

Fonte: Tatiana Farah Tatiana Farah é jornalista de política há mais de 20 anos. É repórter da Agência Brasília Alta Frequência. Foi gerente de comunicação da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Repórter do BuzzFeed News no Brasil de 2016 a 2020.  Responsável por levar os segredos do Wikileaks para O Globo, onde trabalhou por 11 anos. Passou pela Veja, Folha de S. Paulo e outras redações, além de assessorias de imprensa. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra. 
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