O combate à fome precisa valer mais do que um PIX de R$ 600
Quando tudo é prioridade, nada é prioridade. Por isso, o combate à fome precisa ser mais discutido pelos presidenciáveis.
Trinta e três milhões e cem mil brasileiros vão dormir todas as noites com fome. Muitos, milhares deles, dormem ao relento, nas ruas das cidades, nas estradas vicinais, nas praças. Não dá para esperar a inflação baixar, a economia florescer e o blablablá do economês dos candidatos.
Quem tem fome tem pressa.
Um levantamento do governo de São Paulo apontou que o Auxílio Emergencial, hoje ligado ao Auxílio Brasil, não chegou a essas pessoas no estado. Há, no caminho, um descompasso entre quem tem mais necessidade e o público atingido pelos benefícios.
Você pode dizer que a fome é o efeito da crise econômica, do governo Bolsonaro, da pandemia, da guerra na Ucrânia, da borboleta azul que bateu as asas em algum país da África. Mas ela está aqui e cresce diante dos olhos de todos.
O fato e os dados são estes: 33,1 milhões de pessoas com fome e mais da metade do Brasil (125,2 milhões) vive em situação de insegurança alimentar, o que significa algum nível (de mais leve a grave) de necessidade de alimentos.
Você pode dizer: “mas é a economia, estúpida! E por isso falamos tanto dela.” OK. Mas e a fome? O que será feito no primeiro dia de janeiro, seja quem for o/a presidente? Por que, até agora, nas sabatinas da Globo, por exemplo, nem jornalistas nem candidatos trataram com profundidade esse tema?
Mais gordinho, o auxílio do governo chegou para milhões de brasileiros, com seus R$ 600 garantidos até o final do ano. O promessômetro dos candidatos diante dessa “bondade” dos bolsonaristas estourou. É promessa que não acaba mais. É até engraçado -- se não muito triste -- ouvir o discurso social de hoje de gente que dizia, até pouco tempo atrás, que o Bolsa Família era uma esmola, que as mulheres iriam engravidar para receber ali uns R$ 80/mês por ter mais um filho, que não se podia dar o peixe e sim a vara de pescar.
É sobre isso que tratamos na semana passada: como o discurso dos candidatos fica longe dos problemas reais. E como a campanha pode caminhar para outros temas que sequer fazem parte do trabalho de um governante.
Quando tudo é prioridade, nada é prioridade. Por isso, o combate à fome precisa ser mais discutido, precisa valer mais do que um PIX de R$ 600 a depender da boa vontade do/a presidente eleito/a. Um PIX que olha mais para a eleição do que para o futuro, convenhamos.