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Tatiana Farah

Por que chora, Bolsonaro?

Vídeo de presidente chorando em culto viraliza e expõe, enfim, sua fragilidade

11 nov 2022 - 21h25
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Presidente Jair Bolsonaro (PL) se emociona durante culto no Recife, antes do segundo turno das eleições.
Presidente Jair Bolsonaro (PL) se emociona durante culto no Recife, antes do segundo turno das eleições.
Foto: Reprodução / Redes sociais

O pastor fala que Deus conhece a dor de cada coração. Que as lágrimas que o homem derrama em segredo não passam despercebidas. Cabisbaixo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) chora. Limpa rápido o rosto e é confortado por aliados. Gravada em um ato de campanha no Recife, no dia 13 de outubro, a cena inundou as redes sociais nesta sexta-feira, 11, como se ele chorasse pelo que perdeu.

Não se sabe o que levou o presidente às lágrimas e se, àquela altura, ele já pressentia a derrota. Sabe-se apenas que ele jamais demonstrou tamanha sensibilidade em nenhuma questão pública. Em seus discursos, sempre falou de armas e do exercício da força, de aniquilar adversários e de homenagear torturadores. Banalizou a morte e, por consequência, o luto e a dor das pessoas mesmo diante de uma pandemia que arrastou 600 mil vidas. A vitória da força sobre o sentimento.

É um alívio saber que o presidente chora. Ainda que chore apenas pelo que lhe aflige, pelo que toca na carne. Não há doença, morte ou fome suficientes para que se derramem lágrimas, nos diz o presidente. 

Mas perder… ah, perder sempre é muito doloroso. Trancado no Palácio do Alvorada, o presidente tem demonstrado que não está preparado para lidar com essa dor. Deve ter ouvido demais na vida que homem não chora, que isso é coisa de maricas e que chega de mimimi. É que deve ter ensinado aos filhos e que, certamente, tentou ensinar aos brasileiros. Mas perder… ah, perder faz parte da vida, assim como morrer (ele sempre é muito claro em pontuar isso).

Presidente Jair Bolsonaro (PL) se emociona durante culto no Recife, antes do segundo turno das eleições.
Presidente Jair Bolsonaro (PL) se emociona durante culto no Recife, antes do segundo turno das eleições.
Foto: Reprodução / Redes sociais

Quem está na lida do emprego e de trazer todo dia o jantar para casa sabe como é perder. Perde-se todo dia. O homem preto inocente perseguido como um bandido pela deputada loira que brandia uma arma nos Jardins deve saber bem o que é uma derrota. Também conhece a derrota aquela mulher negra e periférica demitida do emprego apenas porque não queria votar no candidato dos patrões. E como não saberiam perder aquelas 4.500 famílias de profissionais de saúde que morreram na linha de frente da Covid-19? 

Os brasileiros perdemos todos os dias. Uns bem mais que os outros, com certeza. Mas a maioria se levanta no dia seguinte e enfrenta o que a vida lhe apresenta. Fica a dica.

Saber perder é uma arte. E a poeta Elizabeth Bishop nos ensina que “a arte de perder não é nenhum mistério”. “Tantas coisas contêm em si o acidente de perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero, a chave perdida, a hora gasta bestamente. A arte de perder não é nenhum mistério.”

Fonte: Redação Terra
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