Tem democracia onde 67,5% temem apanhar por causa da política?
Spoiler: tem
Hoje é o Dia Internacional da Democracia e o brasileiro está com medo. Enquanto crescem no noticiário as violências cometidas em nome da eleição, uma pesquisa inédita apresentada revela que 67,5% dos brasileiros têm medo de ser agredidos fisicamente por conta de suas escolhas políticas ou partidárias.
A pesquisa mostra, numa projeção, que 5,3 milhões de pessoas podem ter sofrido alguma ameaça por causa da política nos últimos 30 dias (ao menos 2 milhões de brasileiros sofreram). Os pesquisadores saíram a campo entre os dias 3 e 13 de agosto. Entrevistaram 2.100 pessoas em todo o país. A projeção de 5,3 milhões de ameaçados foi feita com base nas respostas, uma vez que 3,2% desses entrevistados relataram ter sofrido ameaças.
Realizada pela Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com o Datafolha, a pesquisa aponta que as pessoas amedrontadas pela política têm mais propensão a apoiar o autoritarismo. Querem evitar os riscos, os conflitos. É nesse ambiente que o medo e a intimidação se tornam armas poderosas na disputa política. E têm sido usados à exaustão, a exemplo do acosso de um deputado bolsonarista à jornalista Vera Magalhães no debate da TV Cultura. Logo, não se trata do direito de dizer o que se quer, mas de impor uma agressividade que pode não ter intimidado Vera, como não a intimidou, mas certamente aumentou o clima de tensão no país. O mesmo acontece a cada momento em que o presidente da República diz que não confia nas urnas.
Os dados revelam que, entre tanto medo e discurso de ódio, o brasileiro ainda é um democrata. Quase 90% dos brasileiros defendem que o vencedor das urnas deve ser empossado como presidente em janeiro de 2023. E este brasileiro está despertando para a realidade. A percepção sobre o racismo aumentou entre 2017 e este ano: em 2022, 82% consideram que há racismo no Brasil, enquanto esse número era de 72% na pesquisa anterior. É assim, com os olhos abertos, que o país pode sair desse momento de crise democrática. E, depois de uma ampla política armamentista, o brasileiro se dá conta de que armas não salvam pessoas. Para 66,4% dos entrevistados, armar a população não aumentará a segurança. Pessoas salvam pessoas.