Com honras de chefe de Estado, restos mortais de João Goulart são enterrados
Os restos do ex-presidente brasileiro João Goulart voltaram a ser enterrados nesta sexta-feira em seu natal São Borja após ser exumados mês passado e passar por uma perícia para determinar se foi assassinado em 1976, quando vivia exilado na Argentina, como parte da Operação Condor.
Goulart, que recebeu honras fúnebres de chefe de Estado em 14 de novembro quando seus restos foram transferidos a Brasília em cerimônia liderada pela presidente Dilma Rousseff, voltou a ser homenageado hoje no segundo sepultamento, exatamente 37 anos após sua morte, em 6 de dezembro de 1976 na província argentina de Corrientes.
O ato foi liderado pela ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Maria do Rosário Nunes; representantes do Congresso, do governo do Rio Grande do Sul e de familiares de "Jango", derrubado em 31 de março de 1964 pelo golpe militar que instalou uma ditadura no país até 1985.
O enterro de Goulart é "uma etapa importante para o resgate da história do Brasil. Há lacunas a serem preenchidas e precisamos nos aproximar e dar uma resposta a essas famílias", com as quais o Estado tem um compromisso, afirmou a ministra.
A exumação foi ordenada pela Justiça para a realização de exames que permitam estabelecer se Goulart morreu de ataque cardíaco, como consta em seu registro de óbito em 1976, ou se foi envenenado em mais uma ação da Operação Condor.
Um ex-membro do serviço secreto uruguaio, preso no Brasil por narcotráfico, há cinco anos garantiu que Goulart foi envenenado por agentes de vários países como parte da Operação Condor.
Esse testemunho, somado ao de outras pessoas e a um pedido da família, que sempre suspeitou do envenenamento, fizeram a promotoria abrir uma investigação em 2007 para determinar as causas da morte e a solicitar a exumação do cadáver
São Borja, uma pequena cidade de 60 mil habitantes no Rio Grande do Sul, na fronteira com Argentina e Uruguai, berço do também ex-presidente Getulio Vargas, decretou hoje um dia festivo para voltar a se despedir, desta vez com honras, de um de seus filhos mais ilustres.
O caixão foi ovacionado por centenas de pessoas nas ruas de São Borja, que durante o trajeto do cortejo fúnebre gritavam "Jango, Jango, Jango".
Ele era até agora o único ex-presidente brasileiro morto no exílio e o único que, segundo a presidência, não tinha sido homenageado na época da morte com "o ritual concedido a todos os chefes da Nação".
O regime militar que o despojou do poder, apesar de ter permitido a repatriação do cadáver, apenas autorizou que fosse sepultado em São Borja, sem honras.