'Comboio da Liberdade' se prepara para repressão; polícia de Ottawa aumenta cerco
Manifestantes do "Comboio da Liberdade" que ocupam o centro de Ottawa, no Canadá, sustentaram uma postura de desafio nesta quinta-feira, 17, dizendo estar preparados para uma repressão policial, após autoridades exigirem mais uma vez que o grupo deixe a capital.
Cerca de 400 veículos estão estacionados do lado de fora do parlamento e do gabinete do primeiro-ministro, Justin Trudeau, paralisando o centro da cidade. Classificando os bloqueios como uma ameaça à democracia, Trudeau invocou medidas de emergência na segunda-feira, dando ao seu governo poderes temporários para reprimi-los.
Nesta quinta-feira, a polícia canadense informou que restringiria o acesso ao centro de Ottawa e começou a erguer barreiras ao redor dos prédios do governo. Agentes também distribuíram panfletos em inglês e francês alertando motoristas sobre "penalidades severas", que incluiriam a prisão. Os folhetos traziam ainda alertas de que participantes do Comboio condenados por crimes poderiam ser impedidos de entrar nos EUA.
A presença policial cresceu notavelmente nesta quinta-feira, após o chefe de polícia interino de Ottawa, Steve Bell, ter afirmado no dia anterior que a polícia iria "recuperar todo o centro da cidade e todos os espaços ocupados." Embora os agentes não tenham tomado medidas para remover fisicamente os manifestantes da região - algo que Bell disse que aconteceria nos próximos dias -, o aumento da presença policial fez com que os manifestantes se preparassem para a ação.
Alguns reagiram de maneira pacífica. "Se a polícia aumentar, não vamos aumentar", disse Chris Dacey, que diz estar nos protestos desde que eles começaram, em 28 de janeiro. "Não vamos responder a nenhum tipo de agressão." Outros, no entanto, assumiram posturas mais desafiadoras. "Não vou a lugar nenhum", disse Pat King, um dos organizadores do protesto. "Hoje é o dia em que todos temos a impressão de que vamos ser presos", disse Justin Aiello, de 23 anos. "Estamos bem com isso, pois é por uma boa causa. Vamos nos divertir na prisão."
O Comboio da Liberdade é formado por manifestantes que se opõem às medidas anti-coronavírus e vêm bloqueando estradas há quase três semanas, um movimento que inspirou protestos antigovernamentais contra em outros países e fechou temporariamente as passagens de fronteira com os Estados Unidos.
O ministro da Segurança Pública do Canadá alertou sobre ligações de manifestantes a grupos de extrema direita. A polícia prendeu 11 pessoas e apreendeu armas e munições na segunda-feira em um bloqueio na fronteira em Coutts, Alberta. Quatro pessoas foram acusadas de conspiração para cometer assassinato. Alguns manifestantes deixaram o local após as prisões para evitar a violência.
Ameaças de multas e prisão ajudaram a convencer alguns manifestantes a se retirarem esta semana de quatro pontos de fronteira dos EUA. A polícia emitiu avisos semelhantes em Ottawa, onde caminhoneiros buzinaram em uníssono na quinta-feira, violando uma ordem judicial.
O clima inclemente pode complicar qualquer ação de policiamento. A neve era esperada na quinta-feira em Ottawa e pode chegar a 30 cm até a manhã de sexta-feira, disse a Environment Canada.
Enquanto isso, cresce a urgência do governo para evitar um quarto fim de semana de protestos estridentes que as autoridades classificam como uma ocupação ilegal. "Os bloqueios e ocupações são uma ameaça à nossa economia, ao relacionamento com os parceiros comerciais, às cadeias de suprimentos e à disponibilidade de bens essenciais como alimentos e remédios. São uma ameaça à segurança pública", disse Trudeau.
A Lei de Emergências acionada pelo premiê dá à polícia autoridade para declarar áreas como o Parlamento fora dos limites para protestos que "violem a paz". Os bancos podem congelar contas sem uma ordem judicial, a Real Polícia Montada do Canadá pode fazer cumprir as leis locais e as empresas de reboques podem ser obrigadas a retirar veículos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)