Comissão nacional do PT analisa em SP a situação de Vargas
A comissão executiva nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) está reunida nesta quinta-feira em São Paulo para discussão de uma pauta que inclui a situação do deputado federal licenciado André Vargas (PT-PR). O parlamentar, investigado pela comissão de ética da Câmara por susposta quebra de decoro, se licenciou por 60 dias na última terça-feira e, ontem, renunciou ao posto de primeiro vice-presidente da Câmara.
A reunião da Câmara executiva conta com 18 dirigentes e teve início às 11h50. A previsão é que ela se estenda até o final da tarde.
De acordo com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, serão discutidos ainda a passeata promovida ontem em São Paulo pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o encontro nacional dos próximos dias 2 e 3 de maio, no qual serão definidas as táticas do partido para a eleição desse ano. Falcão citou como último tópico do encontro "a situação da bancada federal" - alusão indireta ao caso de Vargas.
Além do presidente nacional do partido, a mesa tem ainda o líder do PT na Câmara, deputado Vicente Pereira, o secretário geral do Partido Geraldo Magela, e a secretária de Relações Internacionais do partido, Mônica Valente.
André Vargas é acusado de ligação com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal. A renúncia à vice-presidência na Câmara do parlamentar ocorreu no dia em que o Conselho de Ética abriu processo para apurar a conduta de Vargas. Desde ontem, o petista ficou inelegível por oito anos caso renuncie ao mandato de deputado, decisão que preferiu não tomar para se defender das acusações. O relator do caso, Julio Delgado (PSB-MG), já informou haver indícios para dar prosseguimento ao processo. O petista também será investigado pela Corregedoria da Câmara.
Em carta, Vargas disse que enfrenta um "intenso bombardeio de denúncias e ilações lançadas em veículos de imprensa baseadas apenas em vazamentos ilegais de informações". Na semana passada, Vargas admitiu ter viajado em avião pago pelo doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investigou um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões. Mensagens trocadas pelos dois mostram que o petista articulava pela assinatura de um contrato entre a empresa Labogen, de Youssef, e o Ministério da Saúde.
Pressionado pelas denúncias, Vargas já havia pedido licença da Câmara na última segunda-feira, abrindo mão do salário de R$ 26,7 mil e outros benefícios. Petistas evitaram sair em defesa do deputado. Ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista que Vargas deveria se explicar à sociedade para o PT não "pagar o pato".
Defensor de condenados no mensalão
Vargas foi, na Câmara, um dos principais defensores de condenados no julgamento do mensalão. Ele tentou atrasar a análise de um processo de cassação contra o então deputado José Genoino (PT-SP) e apressar a análise do pedido de aposentadoria por invalidez do parlamentar, com objetivo de evitar a abertura de um processo. Genoino acabou renunciando ao mandato antes de a Câmara analisar o futuro de seu mandato.
Em fevereiro, na cerimônia da abertura do ano judiciário, André Vargas ergueu o punho cerrado ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, reprisando um gesto de condenados no julgamento do mensalão no momento em que foram presos.