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Política

Congresso adia votação de projeto que mantém orçamento secreto e põe propostas de Lula em risco

Cúpula do Legislativo avalia não ter apoio para aprovar resolução que mantém emendas sob sigilo após Rosa Weber, presidente do Supremo, votar para declarar mecanismo inconstitucional

15 dez 2022 - 18h17
(atualizado às 19h05)
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Prédio do Congresso Nacional em Brasília 19/03/2021 REUTERS/Ueslei Marcelino
Prédio do Congresso Nacional em Brasília 19/03/2021 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Ueslei Marcelino

O Congresso adiou a votação de um projeto para manter o orçamento secreto e tentar reverter o julgamento do mecanismo no Supremo Tribunal Federal (STF). A proposta estava em pauta no plenário do Congresso nesta quinta-feira, 15, e foi transferida para a próxima terça, 20.

A cúpula do Legislativo ainda não conseguiu apoio suficiente para aprovar a medida e avaliou que uma votação nominal poderia expor os deputados e senadores favoráveis às emendas secretas. Além disso, a proposta não convenceu a presidente do STF, Rosa Weber, que votou para declarar o orçamento secreto inconstitucional e para devolver os recursos ao controle do Executivo, o que tornaria o projeto sem efeito.

O julgamento do STF levou o Congresso a ameaçar uma retaliação ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Líderes do Centrão querem deixar a votação de duas propostas de interesse direto do novo governo para a semana que vem, a última antes do recesso legislativo, à espera do julgamento do Supremo. Estão sob risco a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, que tramita na Câmara, e o Orçamento de 2023. O adiamento aumenta as chances de Lula tomar posse em janeiro sem a aprovação das propostas.

A PEC, no entanto, também é de interesse do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e por isso o movimento é visto como delicado. O Centrão, grupo liderado por Lira, quer usar a PEC para salvar o orçamento secreto deste ano, destravando R$ 7,8 bilhões que estão bloqueados, e garantir a fatia de R$ 19,4 bilhões reservados para 2023, além de barganhar cargos e ministérios com Lula.

Projeto

O projeto adiado estabelece novas regras para as indicações que servem como base do orçamento secreto, mantendo as indicações sob controle dos presidentes da Câmara e do Senado. A tentativa de líderes do Centrão é convencer os ministros do Supremo a aceitar a manutenção do pagamento, sob o argumento de que, a partir de agora, será tudo transparente e equilibrado.

O projeto estabelece um critério de distribuição das verbas conforme o tamanho das bancadas na Câmara e no Senado, além de carimbar metade dos recursos para saúde, educação e assistência social e obrigar a identificação de todos os parlamentares que enviarem recursos públicos para seus redutos eleitorais.

A medida, no entanto, mantém a base do orçamento secreto, ou seja, a autorização para o relator-geral do Orçamento indicar emendas para ações e projetos que aumentam despesas, conforme pedido de parlamentares. A liberação é negociada em troca de apoio político ao Palácio do Planalto e a fatura, paga pelo governo federal. A proposta prevê critérios que, na prática, já são estabelecidos. Além disso, mantém o poder nas mãos dos presidentes da Câmara e do Senado.

A resolução não é suficiente para solucionar todos os pontos classificados como inconstitucionais pela presidente do Supremo, como a falta de planejamento, vinculação com investimentos nacionais e estruturantes e a desigualdade regional na liberação das verbas do orçamento secreto. Nos bastidores, o voto de Rosa Weber foi classificado como "péssimo" e "uma "afronta" por boa parte dos parlamentares.

Valores

Para 2023, estão previstos R$ 19,4 bilhões de orçamento secreto. Pelo cálculo de distribuição, R$ 11 bilhões ficarão nas mãos de deputados por meio dos líderes dos partidos. Os senadores, também por meio dos líderes, receberão R$ 4,5 bilhões. Com o controle dos presidentes das Casas sobre as lideranças, a proposta mantém a atual estrutura do orçamento secreto. Além disso, uma parcela de R$ 3 bilhões ficará reservada para indicações diretas e exclusivas dos presidentes da Câmara e do Senado. O restante será entregue ao presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO) e ao próprio relator-geral.

A equipe de Lula aposta na derrubada do orçamento secreto pelo Supremo, mas sabe que será necessário negociar uma saída política com o Congresso. Lira, por outro lado, assumiu pessoalmente a articulação para salvar a prática. Líderes do Centrão querem usar a PEC da Transição para fixar esse tipo de emenda na Constituição e neutralizar a decisão do Supremo.

A estratégia de Lira, no entanto, enfrenta dificuldades no Senado. Para uma medida ser aprovada na PEC são necessários votos favoráveis de 308 deputados e 49 senadores. A avaliação de líderes políticos é a de que Lira garante a aprovação na Câmara, mas dificilmente o Senado trabalharia pelo dispositivo com o mesmo empenho. O voto de Rosa Weber foi recebido como duro e enfático e pressionou parlamentares.

Se o Supremo derrubar o orçamento secreto e o Centrão não conseguir aprovar o mecanismo na PEC, líderes do Congresso preparam a transferência dos recursos para as emendas de comissão. Elas são aprovadas por cada comissão da Câmara e do Senado para áreas específicas, como Saúde, Educação e Infraestrutura.

Com as emendas de comissão, os recursos teriam de ser aprovados sob regras mais rígidas, mas ainda permaneceriam submetidos às indicações dos deputados e senadores. A alternativa é defendida pelo relator-geral do Orçamento, Marcelo Castro (MDB-PI), aliado de Lula. "Não estou criticando o Supremo, mas, do ponto de vista da aprovação das matérias que estamos discutindo, o julgamento é mais um complicador. É inoportuno", disse Castro.

Sem a PEC, Lula pode ficar sem recursos para negociar a entrega de cargos e verbas ao Centrão. Diante do impasse, aliados do presidente eleito passaram a falar em abrir mão da proposta e aumentar o programa Bolsa Família por meio de uma Medida Provisória, em janeiro de 2023. A ideia é defendida pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL) e pode até mesmo tirar o apoio do PT à reeleição de Lira.

Estadão
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