Copa se tornou objeto de feroz luta eleitoral, escreve Lula
Em artigo publicado no periódico espanhol El País, o ex-presidente Lula escreveu que "a Copa do Mundo tornou-se objeto de feroz luta política e eleitoral no Brasil". No texto, intitulado, "O mundo se encontra no Brasil" , o petista diz que, à medida que se aproxima a eleição presidencial de outubro, "os ataques ao evento tornam-se cada vez mais sectários e irracionais".
"As críticas, naturalmente, são parte da vida democrática. Quando feitas com honestidade, ajudam a aperfeiçoar a preparação do país para esse grande acontecimento esportivo. Mas determinados setores parecem desejar o fracasso da Copa, como se disso dependessem as suas chances eleitorais. E não hesitam em disseminar informações falsas que às vezes são reproduzidas pela própria imprensa internacional sem o cuidado de checar a sua veracidade. O país, no entanto, está preparado, dentro e fora de campo, para realizar uma boa Copa do Mundo – e vai fazê-lo", anunciou no artigo.
Para Lula, "esta é uma oportunidade extraordinária para milhares de visitantes conhecerem mais profundamente o que o Brasil tem de melhor: o seu povo". "A importância da Copa do Mundo não é apenas econômica ou comercial. Na verdade, o mundo vai se encontrar no Brasil a convite do futebol. Vai demonstrar novamente que a ideia de uma comunidade internacional pacifica e fraterna não é uma utopia", garantiu.
O ex-presidente ressaltou também que trabalhou imensamente para que a Copa de 2014 ocorresse no Brasil. "E não o fiz por razões econômicas ou políticas, mas pelo que o futebol representa para todos os povos e, particularmente, para o povo brasileiro", justificou.
O petista também recordou o primeiro título conquistado pela Seleção Brasileira, em 1958, na Suécia. Lula relatou ter na época 12 anos. "Juntei um grupo de amigos para ouvirmos a partida final num campinho de várzea com um pequeno rádio de pilha. Nossa fantasia compensava com sobras a falta de imagens, viajando na voz do locutor", relembrou, revelando que sonhava em ser jogador de futebol, não presidente do Brasil.
O artigo traz que, naquela época, o País começava a se industrializar, tinha criado a sua própria empresa de petróleo e o seu banco de desenvolvimento, as classes populares reivindicavam democraticamente melhores condições de vida e maior participação nas decisões. "Mas os setores privilegiados diziam que isso era um erro gravíssimo, fruto de “politicagem” ou “esquerdismo”, já que comprovadamente não existia petróleo em nosso território e não tínhamos necessidade alguma de inclusão social e muito menos de uma indústria nacional", colocou, complementando que alguns chegavam a afirmar que "uma nação como a nossa, atrasada, mestiça - de povo “ignorante e preguiçoso”, segundo um estereótipo muito difundido dentro e fora do País - devia conformar-se com o seu destino subalterno, sem ficar alimentando sonhos irrealizáveis de progresso econômico e justiça social".
De acordo com Lula, o Brasil que o mundo vai conhecer a partir de 12 de junho é um País muito diferente daquele que sediou a Copa de 1950, quando perdeu na final para o Uruguai. "Ainda tem problemas e desafios, alguns bastante complexos, como qualquer outra nação, mas já não é mais o eterno “país do futuro”. O país de hoje é mais próspero e equitativo do que era há seis décadas," destacou, citando que o Brasil é a sétima economia do planeta. "Em pouco mais de dez anos, tirou 36 milhões de pessoas da miséria e levou 42 milhões para a classe média. É o País com as taxas de desemprego mais baixas da sua história. Que, segundo a OCDE
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), entre todos os países do mundo, foi um dos que mais aumentou nos últimos anos o investimento em educação. Um país que se orgulha de todas essas conquistas, mas não esconde os seus problemas, e se empenha em resolvê-los.