Coronel acusa Exército e Mourão de corrupção por compra de 'megavideogame'
Em livro, coronel da reserva Rubens Pierrotti Jr. detalha alegações de corrupção e irregularidades na compra de simulador
Em seu livro Diários da Caserna: Dossiê Smart: A História que o Exército Quer Riscar, o coronel da reserva Rubens Pierrotti Jr. lança acusações contra o Exército Brasileiro e o ex-vice-presidente e atual senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS). A obra, publicada pela editora Labrador, é descrita como um "roman à clef", um romance que, embora aparentemente fictício, revela eventos reais com nomes alterados. As informações são do jornal Folha de São Paulo.
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Pierrotti Jr. detalha alegações de corrupção e irregularidades na compra de um simulador de apoio de fogo da empresa espanhola Tecnobit, que custou € 13,98 milhões (aproximadamente R$ 32 milhões em 2010, e quase R$ 83 milhões ao câmbio atual). O coronel, que supervisionou o projeto por três anos, afirma que houve conluio entre seus colegas militares para beneficiar a empresa espanhola.
Tanto o Exército quanto Mourão defendem a compra do equipamento, alegando que a aquisição gerou economia e eficiência para a corporação. O Ministério Público Militar arquivou as denúncias, e o Tribunal de Contas da União (TCU) encerrou o caso em 2021, apesar de uma investigação técnica de três anos apontar diversas irregularidades.
O simulador adquirido é comparado a um "megavideogame" que reproduz, em realidade virtual, combates com artilharia, permitindo a economia de munição real. O processo de compra, iniciado em 2010, foi concluído em 2016 com a inauguração dos simuladores. Pierrotti relata que o equipamento foi reprovado várias vezes pela equipe técnica, mas que a compra foi efetivada por interferência de Mourão, identificado no livro pelo pseudônimo "Simão".
Além de detalhar as acusações já conhecidas, Pierrotti Jr. adiciona novos elementos, como relações questionáveis entre generais e lobistas, além de privilégios oferecidos aos militares por parte da empresa espanhola. O autor também menciona que Mourão teria justificado a compra do simulador para evitar um processo de espionagem, já que um oficial brasileiro teria espionado a empresa Tecnobit.
À Folha, o Exército se defende afirmando que preza pela correta execução da administração pública e destaca a economia proporcionada pelo simulador. Mourão, por sua vez, qualificou as acusações como falsas e afirmou que Pierrotti possui uma "mania de perseguição".
Desde a publicação, Pierrotti recebeu críticas de antigos colegas, mas mantém sua posição. Ele acredita que o Exército deveria usar o livro como um estudo de caso para evitar futuros escândalos de corrupção. Em suas palavras, "o Exército está precisando fazer terapia" para admitir e corrigir seus problemas internos.