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Política

Correria e choro na desocupação de um prédio no Rio

11 abr 2014 - 16h29
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Crianças e adultos correm chorando, enquanto uma mulher desmaia em meio a uma chuva de pedras e garrafas e a uma nuvem de gás lacrimogêneo. As cenas de caos acontecerem quando mais de mil policiais desocupavam à força a nova favela nascida em poucos dias em um prédio abandonado do Rio.

O sol mal havia nascido e os vizinhos do assentamento despertaram com a notícia da chegada das forças de segurança. Um helicóptero sobrevoava o terreno da empresa de telefonia Oi, a poucos quilômetros do Maracanã.

"É isso que acontece no país da Copa!", repetiam constantemente os moradores, referindo-se ao Mundial de futebol, daqui a dois meses.

Cerca de 5.000 moradores começaram a deixar o lugar, a grande maioria de forma pacífica. Tentavam retirar seus pertences das barracas, que eram identificadas com nomes escritos em pedaços de madeira.

Moradores incendiaram o interior do prédio, e uma equipe dos bombeiros chegou rapidamente para apagá-lo.

A tropa de choque - com escudos e seu novo uniforme "Robocop", com armadura da cabeça aos pés - não deixou os jornalistas entrarem no edifício pela porta principal.

Mas em uma esquina, dezenas de jovens chamavam: "Vem, repórter, vem!", ajudando o jornalista e o fotógrafo da AFP a entrar no imóvel, passando por um grade. Os moradores comemoraram a entrada. A todo momento gritavam aflitos pedindo que tirassem fotos dos feridos, a maioria sem maior gravidade, e de crianças passando mal devido ao gás lacrimogêneo.

Em poucos minutos a polícia dispersou a maior parte das pessoas que estavam no prédio. Cerca de 100 pessoas continuavam resistindo até as 09h00.

Depois que a desocupação foi concluída, a violência se estendeu para o lado de fora. Alguns manifestantes pacíficos gritavam palavras de ordem contra os policiais, e outros jogavam pedras e garrafas.

Uma barricada foi montada com lixo pegando fogo. Antes de disparar bombas de gás lacrimogêneo, três agentes sorriam enquanto ameaçavam os moradores com suas armas. A atitude da polícia só aumentou a revolta.

Viaturas da polícia foram apedrejadas, e uma delas, incendiada.

De acordo com os números oficiais da Defesa Civil, sete pessoas ficaram feridas, nenhuma deles gravemente. A maioria dos jornalistas contou um número mais elevado de vítimas.

O conflito se alastrou para outra favela, e se tornou mais intenso. Ônibus e caminhões foram incendiados.

Também foram registrados saques a bancos e supermercados. A polícia deteve 22 pessoas, sendo que dez não moravam no prédio ocupado.

Quando o ambiente já estava mais calmo, um homem que passava pela rua, próximo aos agentes de segurança, foi atacado com spray de pimenta no rosto, sem ter feito nada. Moradores gritaram em protesto, e um policial reagiu apontando sua arma para um grupo de jovens.

Os policiais também coagiram os jornalistas, para que não registrassem o que estava acontecendo. "Vá com os da sua raça, burguês", afirmou um deles ao jornalista da AFP. Um fotógrafo do jornal O Globo foi detido, acusado de desacato e incitação à violência. Três carros de redes de televisão e rádios locais foram destruídos por jovens.

Em 31 de março, centenas de cariocas sem casa e sem dinheiro para pagar os aluguéis nas favelas começaram a ocupar o prédio. Em pouco tempo, o terraço já estava cheio de barracas.

Os moradores não tinham acesso a serviços públicos básicos, como água, saneamento e luz. "Queremos que o governo nos ajude a ter um lugar digno para viver", diziam alguns deles.

Outros queriam construir suas vidas ali, apesar das dificuldades. Quando a polícia entrou, a maioria deles não tinha sequer conseguido se estabelecer no prédio.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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