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Política

Corrida eleitoral desperta o risco do populismo econômico

Benefícios sociais ajudam, mas não superam o impacto de um crescimento econômico com mercado de trabalho mais inclusivo

19 jun 2021 - 05h10
(atualizado às 09h36)
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A política fiscal tem sido o principal componente da análise de risco político aos olhos dos agentes de mercado. Nesse sentido, o argumento mais comum apontava para 2021 como o ano mais desafiador para o cumprimento da emenda do teto de gastos públicos. A retirada das despesas com a pandemia do cálculo do teto aliviou a principal preocupação dos agentes. Além disso, a dinâmica inflacionária ajudou a reduzir as previsões da relação dívida/PIB. Em conjunto, esses movimentos sugeriam a ideia de que o risco mais agudo teria ficado no passado. Sob esse prisma, a lógica inflacionária também contribuiria para conter os efeitos do expansionismo de gastos esperado em ano eleitoral.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa para líderes comunitários
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa para líderes comunitários
Foto: Claudia Martini/Enquadrar / Estadão Conteúdo

Curiosamente, a inflação atual mais elevada aumenta o espaço no teto justamente em um momento de acomodação dos interesses políticos. Essa visão mais benigna da questão fiscal minimiza o impacto da fraqueza do capital político do governo na condução da agenda econômica.

A presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no pleito presidencial reforça a vulnerabilidade do projeto de reeleição junto aos grupos mais vulneráveis. Assim, a análise de risco precisa contemplar o aumento do populismo econômico.

A estratégia de tensionamento político-institucional desenhada pelo presidente Jair Bolsonaro até mobiliza um grau de apoio elevado, mas pouco contribui para a redução da rejeição majoritária na sociedade. Dito de modo mais direto: o governo não ganha a eleição repetindo a estratégia de 2018. Governos precisam entregar ganhos concretos para gerar sentimento de continuidade no eleitorado. Em sociedades com elevada desigualdade, isso significa gerar bem-estar para os mais vulneráveis. Não por acaso, o governo busca um selo social, mas cujo desenho final pode gerar mais frustração com o crescimento. Os benefícios sociais ajudam, mas não superam o impacto de um crescimento econômico com mercado de trabalho mais inclusivo.

Assim, o tal espaço fiscal pode ser rapidamente preenchido pela lógica eleitoral do governo com contribuição dos parlamentares. O populismo econômico pode se juntar ao risco institucional como parte do cardápio da corrida presidencial.

*É SÓCIO DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA E DOUTOR EM CIÊNCIA POLÍTICA

Estadão
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