Cristina Kirchner felicita Dilma por relatório sobre crimes durante ditadura
A presidente argentina, Cristina Kirchner, enviou uma carta à Dilma Rousseff por conta da publicação do relatório da Comissão da Verdade sobre os crimes cometidos durante a ditadura (1964-1985), cujo trabalho receberá distinção nesta quinta-feira na Argentina.
"Não quero deixar passar este dia internacional dos Direitos Humanos para saudar a presidente do querido povo brasileiro, o dia no qual foi revelado o relatório da Comissão Nacional da Verdade, que valentemente foi instituído há três anos", começa a carta de Cristina, com data de 10 de dezembro.
A Comissão da Verdade do Brasil apresentou nesta quarta-feira seu relatório final sobre as violações de direitos humanos cometidas durante a última ditadura desse país, que imperou entre 1964 e 1985 e deixou 434 mortos e desaparecidos.
Na carta, Cristina destacou o impulso do governo de Dilma para zelar e esclarecer os crimes da ditadura "com a convicção de que a promoção e vigência do Direito à Verdade é um pilar fundamental para seguir consolidando nossas democracias".
Além disso, Cristina lembrou que a Comissão Nacional da Verdade será hoje "humildemente homenageada" na Argentina com o prêmio internacional de direitos humanos Emilio Mignon.
"Que este gesto seja mais um, no longo caminho empreendido para fortalecer a eterna irmandade entre nossos países a partir dos esforços conjuntos, de modo que juntas possamos dizer 'Nunca Mais' às afrontas à democracia que sofreram nossos povos, a partir da violação sistemática aos direitos humanos", desejou a governante argentina em sua carta.
O relatório apresentado ontem no Brasil, em cerimônia liderada pela presidente Dilma -que durante a juventude passou quase três anos presa e sofreu tortura por seus vínculos com um grupo que pegou em armas contra o regime- estabelece que os crimes cometidos pela ditadura foram "sistemáticos" e reaviveu o debate no Brasil pela impunidade amparada aos repressores.
Durante um ato público realizado ontem, a presidente argentina, que assinou a carta "com o afeto de sempre", tinha destacado já a importância do trabalho em defesa da verdade e dos direitos humanos.
Em seu discurso, Cristina ressaltou que "não há democracia inconsciente da verdade", porque "a verdade é um direito ao qual temos como cidadãos".
Em setembro, a Argentina celebrou 30 anos da publicação do relatório "Nunca Mais", que documentou os crimes cometidos durante a última ditadura argentina (1976-1983).
O relatório argentino foi realizado pela Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep), criada por Raúl Alfonsín (primeiro presidente após o retorno à democracia em 1983) e liderada pelo escritor Ernesto Sábato.
O relatório foi elaborado com dados e denúncias sobre desaparições, sequestros e torturas, recopilados em 8,4 mil páginas sobre as violações do terrorismo de Estado, que deixou cerca de 30 mil desaparecidos na Argentina.