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Política

Dallagnol diz que Lava Jato 'renasce como Fênix' e declara voto em Bolsonaro

O ex-procurador da República declara apoio a Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno e reforça a bandeira anticorrupção

3 out 2022 - 20h30
(atualizado às 20h54)
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Foto: Poder360

Com o resultado das eleições deste domingo, 2, Deltan Dallagnol ingressa na Câmara dos Deputados, passando a atuar ao lado de políticos que estiveram sob o seu crivo durante o comando da operação Lava Jato. O ex-procurador da República declara apoio a Jair Bolson

aro (PL) no segundo turno, reforça a bandeira anticorrupção e abranda o oposicionismo, ao afirmar, em entrevista concedida ao Estadão nesta segunda-feira, 3, que não se unirá 'às pessoas, mas em torno de ideias'. Reformas no Supremo e novos critérios para escolha de ministros também fazem parte da agenda.

Com 344.917 votos, o lavajatista, que é ex-coordenador da maior força-tarefa que o Brasil já teve no combate à corrupção, ficou na frente de nomes conhecidos da política, como Gleisi Hoffman, do PT (eleita com 261.247 votos), Ricardo Barros, do PP (107.022 votos) e Luísa Canziani, do PSD (74.643 votos). No agradecimento aos votos dos eleitores, Dallagnol diz que 'a Lava Jato renasceu como uma fênix, mas não das cinzas, e sim dos corações dos mais de 340 mil paranaenses'.

Sua campanha foi pautada em torno de propostas de combate à corrupção e de resgate do capital político da Lava Jato. Em nota divulgada pela sua assessoria após a confirmação da vitória, ele repudia a possibilidade de vitória do PT: 'enquanto o ex-presidente Lula foi investigado e condenado em três instâncias com abundância de provas, o atual presidente sequer foi alvo de uma acusação formal até hoje'. Além de afirmar que não medirá esforços para impedir o retorno do petismo ao Planalto, já anunciou apoio a Bolsonaro no segundo turno. "É preciso unir o centro e a direita. Sou independente, conservador, cristão evangélico. Tenho ressalvas ao governo atual, mas, apesar das ressalvas, no segundo turno meu voto será em Bolsonaro contra Lula e o PT."

Em entrevista concedida ao Estadão, Deltan Dallagnol sinaliza intenção de resgatar projetos de lei que aumentam as prerrogativas de atuação do Poder Judiciário e do Ministério Público. O lavajatista critica o Congresso e o Supremo, aos quais atribui a responsabilidade pelo fim da operação que coordenou. Confira:

Como o sr. pretende enfrentar vícios anacrônicos da Câmara?

Com o apoio da sociedade, com preparação política e com estratégia. A minha votação ontem (2) foi histórica: foram mais de 344 mil votos, o que mostra que a sociedade ainda não desistiu do combate à corrupção representado pela Lava Jato. Para se ter uma ideia, se você aplicar proporcionalmente a minha votação para o Estado de São Paulo, que é o maior colégio eleitoral do País, nosso projeto teria recebido mais de 1 milhão e 300 mil votos, superior ao candidato mais votado. Tenho me preparado durante todo este ano para a função. Se esses vícios não forem superados com o Congresso atual, vou continuar lutando por projetos partidários e apartidários de renovação política, para que tenhamos condições de vencer isso no futuro. A luta contra grandes injustiças sociais sempre foram vencidas com fé, coragem e perseverança, e isso não aconteceu da noite pro dia.

Como pretende conviver com políticos que já investigou e denunciou na Operação Lava Jato?

Não irei me unir à pessoas, mas em torno de ideias, causas e projetos. Todas as causas e projetos de lei apresentados que estiverem de acordo com meus valores e princípios, estejam baseados em evidências e sejam bons para o desenvolvimento do Brasil terão o meu total apoio.

Tem ideia de qual será o primeiro projeto que tentará emplacar?

Tenho várias ideias, e uma delas é retomar a tramitação das Novas Medidas Contra a Corrupção, um super projeto que teve a coordenação da Transparência Internacional e de mais de 200 especialistas de vários países. Também quero me envolver na tramitação dos projetos de lei que já existem de fim do foro privilegiado, prisão em 2ª instância e de reforma do Supremo. Precisamos de critérios mais técnicos para a indicação de ministros e que exista uma fase, na indicação de potenciais candidatos, específica para debate público e escrutínio pela sociedade. A ideia envolveria também uma limitação dos casos que o Supremo poderia julgar. Quero participar ativamente das principais reformas estruturais do país, como a tributária, política, administrativa e educacional. Outra grande prioridade é defender uma política pública nacional de tratamento de saúde para pessoas autistas.

Quando o sr. diz que a Lava Jato renasceu das cinzas, a quem o senhor atribui o encerramento da operação?

Essencialmente ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional. O Supremo, que aplica e interpreta a Constituição, mudou em menos de 3 anos o entendimento sobre a prisão após a 2ª instância e impediu a prisão dos corruptos já condenados nos tribunais. O Supremo também mudou de entendimento sobre a competência para julgar crimes de corrupção política, tirando-os da Justiça Federal e enviando para a Eleitoral, que não é vocacionada para investigar casos desse tipo. Essa mudança de regra não apenas atrapalhou o combate à corrupção no futuro, mas também foi responsável pela anulação de vários casos da Lava Jato. E o Congresso, responsável pela criação das leis no país, impôs pesados retrocessos à Lava Jato, como a mutilação das 10 Medidas Contra a Corrupção, da Lei de Improbidade Administrativa e do Projeto Anticrime. O Congresso também foi responsável por passar a Lei de Abuso de Autoridade, que cerceou o trabalho de juízes e investigadores. É apenas lá no Congresso que esses retrocessos poderão ser revertidos e os avanços, alcançados.

Se Bolsonaro for eleito, o sr. pretende se colocar como oposição?

Sou independente, conservador, cristão evangélico e, por isso, tenho algumas pautas em comum com o governo atual, mas também tenho críticas e ressalvas, que já são conhecidas. Pretendo atuar no Congresso como um fator de soma e de união para o centro e para a direita em torno do combate à corrupção, de políticas públicas com base em evidência e de valores da cultura judaico-cristã que dão base à nossa sociedade, como amor, compaixão e serviço às pessoas.

O sr. sempre se considerará lavajatista, mesmo que agora esteja do outro lado do balcão?

Sempre. A Lava Jato está no meu DNA e isso jamais vai mudar. Toda atividade humana pode ser aperfeiçoada e melhorada, mas os resultados inéditos e o legado positivo trazido pela Lava Jato para o país jamais poderão ser negados.

Estadão
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